Já se conseguem fabricar espermatozoides humanos em laboratório. A Kallistem, uma empresa biotecnológica sediada em Lyon, a segunda maior cidade de França, acaba de anunciar a criação de «espermatozoides humanos completos in vitro, formados na sua totalidade», revela em comunicado. Para conseguir o feito, inédito a nível mundial, os cientistas recorreram aos testículos de homens estéreis para conseguir amostras. A descoberta, conseguida no final de 2014, «abre caminho para novas e inovadoras terapias de preservação e de restauro da fertilidade masculina», refere ainda o documento.

Nos últimos 50 anos, o número de espermatozoides humanos caiu cerca de 50%, uma queda que a companhia pretende agora  contrariar. Nos próximos meses, a empresa especializada em tecnologias de cultura de células pretende angariar fundos para acelerar os planos de crescimento que tem em mãos, estando mesmo à procura de um parceiro nos EUA para desenvolver o processo, conseguido através da realização de biopsias testiculares e de um complexo de espermatogenesis in vitro.

«Estamos a desenvolver um projeto de plano terapêutico para pacientes com a fertilidade em risco», anunciou já publicamente. Os testes pré-clínicos vão prolongar-se até ao final de 2016 e os ensaios clínicos estão previstos para 2017. «O objetivo para os próximos cinco anos é conseguir lançar esta tecnologia para o mercado, licenciando-a para que possa ser usada pelas clínicas de fertilidade», refere ainda o comunicado da companhia, criada em 2012.

Negócio vale 2,3 mil milhões de euros

A empresa estima que, num futuro muito próximo, este negócio possa vir a gerar 2,3 mil milhões de euros, abrindo novas perspetivas de fertilidade para 50.000 novos casais por ano. «Estamos de olho num grande mercado global que não tem, neste momento, outros players», refere Isabelle Cuoc, diretora-executiva da Kallistem. «Isto deveria ser suficiente para atrair a atenção dos investidores», sublinha a gestora, que promete arrancar com o processo de angariação «ainda em 2015».

«O que eles conseguiram é um verdadeiro feito da biotecnologia. Abre possibilidades terapêuticas há muito esperadas», comentou já também publicamente Hervé Lejeune, professor do Departamento de Medicina Reprodutiva do Centro da Mulher, da Mãe e do Bebé do Hospital Universitário de Lyon. «A ideia é obter espermatozoides que possam ser criopreservados até que o homem manifeste o desejo de ser pai, para darmos seguimento ao processo», refere ainda o documento que tornou pública a informação.

Texto: Luis Batista Gonçalves