“O Governo tinha legitimidade eleitoral para aplicar um programa, por exemplo, de privatização, da substituição do sistema público pelo sistema privado, mas ficaram a meio da ponte: tiveram medo de atacar o Serviço Nacional de Saúde, bateram com a mão no peito a defendê-lo, mas foram, por omissão, provocando danos que são irreparáveis”, afirmou Adalberto Campos Fernandes, da Escola Nacional de Saúde Pública.

Nas Caldas da Rainha, onde foi orador no debate “A crise das Urgências e o défice de cuidados hospitalares públicos” o especialista criticou, na quinta-feira à noite, o facto de o Governo não ter implementado as reformas estruturais para o setor da saúde previstas no memorando da troica, levando a que a saúde em Portugal chegasse “a este ponto”.

Ou seja, o entupimento dos serviços de urgência com verdadeiras e “falsas urgências”, falta de médicos, enfermeiros e pessoal técnico, hospitais financeiramente asfixiados, falta de camas, falta de cuidados continuados e falta de respostas sociais, entre muitas outras críticas apontadas, no mesmo debate, pelo bastonário da ordem dos médicos, José Manuel Silva ou pela dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, Guadalupe Simões.

Poucas soluções propostas

As críticas ao estado do Serviço Nacional de Saúde foram igualmente a tónica das intervenções de Ana Escoval, presidente da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar e de Sebastião Santana, da Plataforma Lisboa Defesa do SNS, numa longa sessão em que apesar dos problemas elencados, os participantes concluíram que “O SNS não morreu, nem vai morrer”.

Mas soluções concretas para a resolução concreta dos seus problemas foram poucas as avançadas no debate, tanto mais que, como sublinhou Adalberto Fernandes, “será irresponsável qualquer entidade, com um mínimo de bom senso, dizer que a partir do final deste ano, será possível reconverter o subfinanciamento e a degradação do serviço público de um dia para o outro”.

A resposta passará, segundo este especialista, pela “responsabilidade de reconstruir o sistema de saúde para todos, dinamizando a sua capacidade interna de recuperação e de reconstrução” o que, para implica, “uma relação clara e transparente com o setor privado e setor social e não numa relação cinzenta e confusa que, neste momento, nem para os próprios operadores privados é útil, porque efetivamente os plano não estão bem definidos”.

O debate foi promovido pela Comissão de Utentes “Juntos pelo Nosso Hospital”, que tem acompanhado os problemas das urgências das Caldas da Rainha e a fusão daquele centro hospitalar com os hospitais de Torres Vedras e de Peniche no novo Centro Hospitalar do Oeste (CHO).

Uma solução que os participantes consideraram também “uma fusão de insuficiências” que fez desta “uma das regiões com mais carências a nível hospitalar”, levando António Curado, da Comissão, a defender “a construção e um novo hospital para todo o Oeste”, considerada esgotada a capacidade destes hospitais darem resposta aos atais 350 mil utentes.