Organizado pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), em parceria com a Fundação Friedrich Ebert, o Seminário Sobre Planeamento em Saúde reúne cerca de 30 especialistas nacionais e internacionais na temática, assim como políticos e governantes ligados à gestão da saúde.

Em causa está um setor que "tem andado relativamente esquecido", tanto ao nível das universidades como dos técnicos e peritos, mas também dos decisores políticos, em especial governantes e deputados, disse à Lusa Jorge Simões, do IHMT e membro da Comissão Científica do seminário.

Professor universitário em organização de sistemas de saúde, gestão em saúde, planeamento em saúde e regulação em saúde, Jorge Simões defendeu que "o planeamento é fundamental e é fundamental em tudo", a começar pelos recursos humanos.

O planeamento permite antecipar, por exemplo, quantos e que médicos e enfermeiros serão necessários em 2040, ou onde será mais eficaz construir um novo hospital, explicou o ex-presidente da Entidade Reguladora da Saúde. "Só para responder a estas questões é preciso um conjunto transversal de conhecimentos, que vai desde as áreas da saúde no sentido mais estrito até ao ordenamento território, acessibilidades, ao conhecimento de oferta pública e privada na área da saúde" e até a aspetos relacionados com o ambiente ou a agricultura, explicou o investigador.

O planeamento em saúde, acrescentou, "é das áreas em que se exige mais cultura, mais conhecimento e mais informação".

No entanto, esta área tem estado arredada do foco público, "porque o enfoque tem sido colocado nos aspetos financeiros, nos aspetos relacionados com os dinheiros necessários para assegurar o mínimo de recursos para o sistema de saúde". "Os governos preocupam-se com o dia-a-dia, com o dia seguinte, na melhor das hipóteses preocupam-se em ganhar as eleições", lamentou, defendendo que, sem retirar importância à questão financeira, é preciso "ir mais atrás" e investir mais no planeamento.

Esse investimento num bom planeamento permitirá por seu lado fortalecer e solidificar a sustentabilidade financeira, destacou o especialista, que em 2009/2010 foi um dos dois coordenadores nacionais do novo Plano Nacional de Saúde.

A consequência da atual falta de investimento no planeamento em saúde é que hoje existe "um difícil entendimento em relação aos recursos humanos" que é preciso formar e que são necessários no sistema de saúde em geral e no serviço nacional de saúde em particular.

Também em relação à construção de hospitais, falta conhecimento: "Porquê aqui e porque não acolá", questionou Jorge Simões. "Quando estamos com a preocupação do dia seguinte em relação a aspetos financeiros, estamos a adiar permanentemente uma visão mais estratégica e mais global das questões da saúde", alertou, sublinhando que, com bom planeamento, as decisões são mais eficientes e menos suscetíveis de serem respostas a grupos de pressão" políticos, partidários ou autárquicos.

Para tentar inverter a situação, o IHMT reúne entre segunda e terça-feira "pessoas que têm uma reflexão relevante", na Europa, África e América Latina, e que irão discutir, "mas também tentar encontrar soluções".

As conclusões serão depois úteis aos governos, atuais e futuros, de Portugal, mas também de outros países que têm representantes no encontro: Angola, representada pelo ministro da Saúde, Luís Sambo; Moçambique, representado pelo vice-ministro da Saúde, Mouzinho Saíde; ou Cabo Verde, que envia a diretora Nacional de Saúde, Maria da Luz Lima.

Entre os especialistas presentes, Jorge Simões destacou Nigel Crisp, membro da Câmara dos Lordes, no Reino Unido, considerado uma figura central na área do planeamento em saúde a nível global; assim como Josep Figueras, do Observatório Europeu em Sistemas de Saúde, ou o próprio Luís Sambo, que foi diretor executivo da Organização Mundial de Saúde África.