20 de maio de 2014 - 15h44
Uma especialista em avaliação psicológica defendeu hoje que os idosos que apresentem “algum tipo de declínio funcional” deviam fazer exames psicológicos para avaliar a sua aptidão para conduzir, como já acontece com os condutores profissionais.
“A avaliação psicológica tem a possibilidade de avaliar funções cognitivas, aspetos emocionais e comportamentais que uma avaliação médica não consegue aferir de forma rigorosa e formal numa consulta”, disse à Lusa Inês Saraiva Ferreira, autora do estudo “Avaliação psicológica de condutores idosos: Validade de testes neurocognitivos no desempenho de condução automóvel”.
A psicóloga clínica adiantou que a obrigatoriedade destes testes psicológicos, que atualmente apenas abrange os condutores profissionais, devia ser alargada “a pessoas que estão a perder capacidades” ou que têm doenças neurológicas, demências, Parkinson e esclerose múltipla.
“Nestes grupos clínicos específicos seria importante fazer, de um modo sistemático, avaliações psicológicas”, defendeu.
Mas para isso era necessário que os médicos estivessem sensibilizados para essa necessidade, disse a investigadora, adiantando que os psicólogos também têm de sensibilizar a comunidade científica e a comunidade médica para essa necessidade.
Inês Saraiva Ferreira explicou que “os testes psicológicos são preditivos daquilo que as pessoas idosas fazem em contexto real de trânsito”, conforme constatou no trabalho que realizou e que teve com base a tese de doutoramento que apresentou na Universidade de Coimbra.
Segundo o estudo, os idosos com pior desempenho de condução obtiveram resultados inferiores nos testes psicológicos que verificaram as funções executivas, visuo-espaciais, visuo-percetivas e a atenção visual
“Essas pessoas idosas tinham piores desempenhos e eram menos seguras para a segurança rodoviária”, comentou.
A investigadora observou que já há profissionais de saúde sensibilizados para a necessidade de ser realizada, além do exame médico, uma avaliação psicológica, através de instrumentos de avaliação mais formais.
“Mas em regra (…) nem sempre os médicos estão sensibilizados para essa necessidade e ficam apenas pela sua avaliação médica, que é mais centrada nas doenças e no aspeto físico e não tanto nos aspetos cognitivos que os psicólogos estão preparados para avaliar”, lamentou.
“Se queremos fazer uma avaliação rigorosa, teremos sempre que recorrer a instrumentos de avaliação psicológica, se não nunca vamos conseguir saber em que condição os idosos estão a conduzir nas estradas”, sustentou.
Inês Saraiva Ferreira alertou para a necessidade de continuar a fazer-se investigação nesta área para poder melhorar os instrumentos utilizados atualmente e “fundamentar o recurso a testes neuropsicológicos válidos e eficientes para o exame clínico de condutores idosos”.
Sobre o impacto de perder a carta de condução, a psicóloga disse que no caso dos idosos “é mais uma perda das muitas” que vão tendo, de forma natural, ao longo da vida.
“Perder a carta tem um significado simbólico muito concreto na nossa vida e para as pessoas idosas, muitas vezes, significa perder as pernas”, frisou, ressalvando que “nem sempre é assim.
A segurança rodoviária vai estar em debate no congresso “Prevenir e Reparar”, dedicado ao tema “Crescer e Envelhecer na Estrada”, que decorre na quarta-feira em Lisboa.
Por SAPO Saúde com Lusa