Doentes jovens com esclerose múltipla são “atirados” para lares por falta de alternativas, uma lacuna que a Sociedade de Esclerose Múltipla quer colmatar, mas falta-lhe os meios para construir o equipamento, uma vez que já tem terreno e projeto.

Nas vésperas de mais um congresso anual da Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla (SPEM) e do Dia Nacional da Esclerose Múltipla (04 dezembro), a presidente da instituição apela às entidades públicas para que apoiem a construção de uma casa de cuidados continuados para acolher estes doentes.

A construção deste equipamento tem sido uma luta de há vários anos da SPEM, um “sonho” que, segundo Manuela Neves, está perto de se concretizar: "Já temos terreno doado pela Câmara Municipal de Oliveira do Hospital e projeto, faltam os meios para construir e equipar. Esperamos que as entidades públicas sejam sensíveis a isto".

A Esclerose Múltipla, que afeta cerca de 6.000 portugueses, surge em regra entre os 20 e os 35 anos, e é mais frequente nas mulheres. Por ser uma doença incapacitante, muitos doentes são encaminhados ainda jovens para lares de terceira idade.

"Uma coisa tão simples como pegar num molho de legumes e fazer uma sopa, há quem não o possa fazer e fica muito caro pagar a alguém para o fazer", elucidou Manuela Neves.

Muitos destes doentes têm poucos recursos financeiros porque já não trabalham e vivem de apoios sociais. Outros já estão reformados com pensões "miseráveis porque tiveram um carreira contributiva nula ou muito curta".

Muitas vezes, adiantou, estas pessoas acabam por ser tratadas pelos pais.

"Em muitos casos, os pais já precisam de ser cuidados e ainda são cuidadores", lamentou, acrescentando: "Estes doentes chegam a um ponto em que são atirados para lares de terceira idade porque são as únicas estruturas existentes".

"Uma médica da Covilhã contou-me o caso de uma doente na casa dos 30 anos que está numa cadeira de rodas, com uma capacidade intelectual de 100 por cento e que diz: Os meus amigos têm mais de 80 anos e, todos os dias, morre um", contou.

Manuela Neves reiterou a necessidade de avançar com a construção do lar, com capacidade para 50 utentes, para que estes doentes tenham um acompanhamento específico e possam conviver com pessoas da mesma idade e que sofrem do mesmo problema.

A escolha de Oliveira do Hospital para a instalação deste equipamento social deve-se à centralidade do concelho, mas também ao facto ser um clima mais frio, que é bom para os portadores de esclerose múltipla, explicou.

A esclerose múltipla é uma doença inflamatória crónica e degenerativa do sistema nervoso central que interfere com a capacidade de controlar funções como a visão, a locomoção ou o equilíbrio.

Os sintomas mais frequentes da esclerose múltipla são falta de força em um ou mais membros, alterações da visão (visão dupla ou perda de visão de um dos olhos), alterações do equilíbrio e da coordenação e alterações da sensibilidade.

02 de dezembro de 2011

@Lusa