Ao realçar a importância de "minimizar um dos mais graves problemas de saúde pública", Massano Cardoso reconheceu que os efeitos nefastos da ingestão excessiva de álcool "começam a ser alvo das atenções dos próprios industriais que, serodiamente, vêm defendendo a necessidade de consumos moderados".

Esta preocupação, "contemplada nos cartazes e noutro tipo de publicações, poderá ter algum impacto e antecipa um conjunto de normativos comunitários destinados a reduzir" o consumo de bebidas alcoólicas e as suas consequências na sociedade, "com particular incidência nos jovens em formação", afirmou.

O diretor do Instituto de Higiene e Medicina Social da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra proferia uma conferência sobre o consumo do álcool em diferentes civilizações, desde a pré-história, integrada nas comemorações dos 50 anos da Unidade de Alcoologia de Coimbra.

Em Portugal e noutros países, o alcoolismo "atinge foros de calamidade, traduzidos no elevado número de doentes, de mortos e de conflitos de vária espécie, além de ser um fator de empobrecimento coletivo", alertou.

O vinho, tal como outras bebidas alcoólicas, "nasceu como medicamento e alimento", mas transformou-se ao longo dos séculos "numa das maiores preocupações" dos povos.

"Quando se associam interesses económicos com o prazer do espírito, criam-se as condições únicas para criar pragas mortíferas", disse Massano Cardoso.

As medidas legislativas "vão ainda contrabalançando o problema", só que o ser humano, "na sua perspetiva hedonista, não desperdiça nenhum alimento do espírito, do qual as bebidas alcoólicas fazem parte".

"As limitações ou mesmo a proibição da publicidade, em determinados contextos, pode contribuir para equilibrar a situação", recomendou o professor catedrático.

Limitar o consumo de álcool "em determinadas circunstâncias é salutar" e mesmo "ninguém põe em causa", como já acontece na condução rodoviária ou no local do trabalho.

No entanto, "o poder dos lóbis deste setor da economia é muito poderoso e (…) não deixarão de utilizar todas as espécies de argumentos para travar e adiar medidas legislativas" que visem aquele objetivo.

Ao prever que a taxa de alcoolemia no país "irá sofrer uma redução", Massano Cardoso disse que importa levar os produtores e os consumidores de álcool "a adaptarem-se a uma nova realidade" neste domínio.

"Isto de andar na estrada, sobretudo em Portugal, é um perigo real de morte. O civismo não é passível de decreto, mas a taxa de alcoolemia é", acrescentou.

Outro problema de saúde pública "é o consumo de álcool pelas raparigas, fenómeno preocupante devido às diferenças metabólicas e ao impacto na saúde de quem tem a responsabilidade de assegurar a reprodução".

O epidemiologista salientou "a emergência de doenças relacionadas com o álcool no sexo feminino como nunca se viu" e disse que o alcoolismo juvenil vai ter "implicações muito graves no futuro".