“Fechar o pavilhão central e mandar os doentes para outro hospital foi a nossa sugestão”, contou à Lusa José Correia Azevedo, que disse ter visitado aquela unidade de saúde e contactado com os enfermeiros.

O responsável assinalou que “a opinião deles [enfermeiros] é que não há possibilidade de controlo porque o isolamento não é possível”.

“As condições internas do hospital não prestam um isolamento eficaz e as preocupações são constantes”, realçou José Azevedo para quem o próprio estetoscópio que os médicos transportam ao pescoço durante o dia é um veículo de transmissão da bactéria.

O presidente do sindicato considera ainda ser importante “avisar as pessoas” que visitam parentes no hospital “para não mexerem em nada” porque “correm risco” de ficarem contaminadas com a bactéria multirresistente.

Contactada pela Lusa, a Coordenadora do Grupo Coordenador Local do Programa de Prevenção e Controlo de Infeção e Resistência aos Antimicrobiano do Centro Hospitalar Gaia/Espinho disse que “não há qualquer indicação para o encerramento de todo o hospital ou do Pavilhão Central quando o surto está limitado e localizado”.

“Nas áreas clínicas onde foram identificados os casos, procedeu-se ao seu encerramento temporário até à obtenção dos resultados dos rastreios, assim como à desinfeção do ambiente”, explicou Margarida Mota.

Mais quatro casos

Questionada sobre a preocupação dos enfermeiros, a responsável respondeu que “as infeções associadas aos cuidados de saúde são inevitáveis em um terço dos pacientes” e lembrou a sua função de “tratar de doentes”.

“É nossa obrigação prevenir as infeções, cumprindo todas as medidas de prevenção e controlo de infeção”, assinalou, frisando que “não há motivo de alarme para a população, utentes e profissionais” uma vez que “os doentes estão devidamente identificados e sob medidas de isolamento estipuladas”.

O hospital de Gaia divulgou hoje ter identificado mais quatro doentes colonizados (não infetados) com a bactéria multirresistente que já causou a morte a três pessoas.

Informou também que foram já criados sete quartos de isolamento individual, três enfermarias com capacidade de 11 camas na área médica e três enfermarias na área cirúrgica com capacidade de quatro camas.

Na passada semana, aquele centro hospitalar divulgou ter identificado, desde 07 de agosto, mais de 30 doentes portadores de Klebsiella Pneumoniae, uma bactéria multirresistente que terá surgido em consequência do uso de antibióticos, é de rápida disseminação, transmite-se pelo toque, sobrevive na pele e no meio ambiente e desconhece-se a sua durabilidade.

O hospital, que garantiu hoje que a situação “está controlada”, suspeita que a origem do surto tenha sido numa doente que fez vários ciclos de antibiótico e que partilhou, no dia 29 de julho, a mesma unidade de pós-operatório com o primeiro paciente infetado.

De acordo com o relatório "Portugal - Controlo da Infeção e Resistência aos Antimicrobianos em números” de 2014, publicado na página da Direção-Geral da Saúde, Portugal apresenta elevada taxa de resistência bacteriana aos antibióticos, sendo “crescente” a resistência à bactéria Klebsiella, com valores superiores a países como Espanha, França, Alemanha ou Reino Unido.