“Sabia da greve, mas devia ser mais nos hospitais. E já vi o meu médico”, disse à Lusa Isabel Rodrigues, que aguardava à porta a sua vez, com a senha na mão e acompanhada de uma amiga.

Uma mãe com dois filhos descia a escadaria à saída do Centro de Saúde e, quando abordada pelos jornalistas, dizia que sim, que tinha sido atendida: “Esta médica nunca falha”.

Agarrou na mão dos filhos de continuou, passando pelos dirigentes do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) que se deslocaram ao centro de Saúde de Sete Rios e que, quando confrontados pela Lusa, disseram ter estado “até à última” à espera que a negociação com o Ministério da Saúde resultasse. “Acreditámos até à última que a negociação resultasse. Talvez por isso a mobilização tenha decorrido mais em cima da hora”, reconheceu Zita Gameiro, da FNAM.

Ainda assim, a dirigente do SIM Isabel Nunes lembrou que este é um centro de saúde que funciona o dia inteiro, das 08:00 às 20:00, e que alguns médicos de família podem ter avisado os seus utentes que não vinham, evitando deslocações desnecessárias.

Sobre as negociações com o Ministério, Isabel Nunes sublinha: “Está não é só uma falta de respeito pelos médicos. É uma falta de respeito para com a população, que desta forma não tem cuidados de saúde prestados da melhor forma”.

Os médicos cumprem desde as 00:00 de hoje uma greve nacional de dois dias contra a falta de medidas do Governo em várias matérias, entre as quais a redução dos utentes por médico de família e diminuição de horas em urgência.

12 sintomas que nunca deve ignorar

Zita Gameiro, da FNAM, recordou, em declarações à Lusa, que durante a negociação os sindicatos foram sendo surpreendidos com legislação publicada sobre matérias que não eram abordadas, dando como exemplo os Centro de Responsabilidade Integrados.

Além disso, disse igualmente Bernardo Matias, do SIM, houve matéria abordada durante as reuniões que inicialmente estava acordada, mas depois não se concretizou.

“Fomos empurrados para a greve”, acrescentou o dirigente, sublinhando que os médicos “estão sempre disponíveis para negociar”, mesmo depois da greve.

Os espaços de espera dos utentes não estavam cheios no interior do centro, o que leva a crer que alguns médicos terão avisado os seus doentes que não vinham, evitando desta forma deslocações desnecessárias.

No topo das escadas, uma utente idosa que saia do centro de saúde queixava-se de a sua médica de família ainda não ter sido substituída: “Já vim dois dias seguidos e nada de consulta, vou para casa outra vez”.

Quanto a balanços, os dirigentes sindicais presentes em Sete Rios disseram ser ainda cedo para tal, tendo apenas indicações de “relatos isolados” de grande adesão em hospitais.

“A mensagem que queremos passar é de descontentamento dos médicos, mas também de união entre a classe”, disse Bernardo Matias.

SIM e FNAM reivindicam um conjunto de 30 pontos e queixam-se de que o Governo tem empurrado as negociações ao longo de um ano, sem concretizações, e demonstrando falta de respeito pelos profissionais.