12 de dezembro de 2013 - 14h20

O diretor do Programa Nacional da Promoção de Saúde Mental defendeu hoje, no Porto, que a solução para os impactos “dramáticos” da crise na saúde mental, nomeadamente o suicídio, está “na criação de trabalho e no apoio social”.

"A solução para os efeitos da crise na saúde mental não está nos medicamentos nem em psicoterapias. Está na criação de trabalho e no apoio social nas situações mais dramáticas”, observou Álvaro Carvalho, em declarações aos jornalistas antes do debate “Novas Perspetivas sobre efeitos da crise na saúde”, organizado pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

O responsável defende, porque isso, que os efeitos da crise na saúde mental são um “problema transversal” porque não se resolvem “sem respostas da segurança social, do mercado social de emprego ou de cursos de formação que respondam a áreas em que há défice a nível de mercado para reduzir o desemprego”.

Álvaro Carvalho notou que na área da saúde mental não se coloca a dificuldade de acesso à prestação de cuidados profissionais, porque nos “40 e tal departamentos dos hospitais gerais e nos hospitais psiquiátricos não há taxas moderadoras”, mas avisou para outras dificuldades.

“Poderá haver e parece que há dificuldades de acesso aos transportes [para as consultas] e de acesso aos medicamentos adequados”, observou.

Os suicídios são uma das “repercussões” registadas “internacionalmente” em cenário de crise económica, pelo que, para o responsável, “quando se fala em crise ao nível da saúde mental inevitavelmente” tem de se “falar no risco de suicídio”.

“Em pessoas mais suscetíveis, ou que tenham problemas prévios, é muito frequente o agravamento ou desenvolvimento de depressão. Internacionalmente sabe-se que mais de 90% das pessoas que concretizam suicídio têm perturbações de humor e do domínio da depressão”, alertou.

Em cenários de crise como “a situação que estamos a viver, ao introduzir taxas de desemprego muito acentuadas” e ao aumentar “o custo de vida” há consequências “internacionalmente registadas na estabilidade emocional” das pessoas, acrescentou.

“Estas repercussões emocionais são muito rápidas e instalam-se de modo muito dramático”, sublinhou.

Também presente no debate, Pedro Graça, diretor do Programa Nacional de Promoção Alimentação Saudável, sustentou que as mudanças dos portugueses ao nível alimentar podem ser positivas.

“Conseguimos manter a qualidade da nossa alimentação se conseguirmos perceber as mudanças que podem ser feitas a esse nível. A proteína, presente na carne, pode ser obtida através de leguminosas como grão, feijão e lentilha ou através de laticínios que precisam de ser valorizados, nomeadamente o leite, e consumo de ovos”, observou, em declarações aos jornalistas.

O Programa Nacional de Promoção Alimentação Saudável tem tentado acompanhar a forma como os portugueses alteram a sua alimentação “para reagir à crise” e, para Pedro Graça, “o grande desafio dos próximos tempos é perceber que as mudanças podem ser feitas de forma positiva”.

“O que gostaríamos é que a mudança possa ser positiva.

As pessoas estão a substituir carne de vaca por carne de frango, determinados peixes por peixe mais barato. Estamos a tentar capacitar as pessoas para manter o valor nutricional dos alimentos que comem reduzindo o custo”, esclareceu.

SAPO Saúde com Lusa