18 de setembro de 2014 - 07h20

A Federação internacional da Cruz Vermelha considera arriscado o fecho das fronteiras na luta contra a epidemia do ébola, referiu hoje à Lusa um colaborador da organização.  

"A Cruz Vermelha não trabalha com o fecho das fronteiras. Não é a nossa abordagem. A nossa abordagem é manter o diálogo com as pessoas afetadas e com as comunidades vulneráveis, escutar as comunidades e os suas inquietudes e ajudá-las a entender as dinâmicas do surto", disse à Lusa o coordenador de saúde em emergência Panu Saaristo.  

Interrogado sobre as restrições de viagens implementadas pelos governos apesar da Organização mundial da saúde não proibir as viagens, o coordenador respondeu: "nós vemos um risco já que as pessoas que viajam precisam de sustentar as suas famílias (...) Elas não viajam por turismo. Isso é bastante válido no caso das fronteiras terrestres".  

Assim, as pessoas que continuam a viajar em trabalho vão tornar-se mais vulneráveis perante o ébola, porque vão estar fora do sistema de controlo.

Para este responsável, é melhor manter o diálogo e entender os medos dos países e adaptar as medidas de controlo da epidemia.  

No caso de ilhas, como São Tomé e príncipe ou Cabo Verde, o coordenador indicou que "em teoria, é mais fácil controlar uma ilha e é mais complicado fechar fronteiras terrestres. Mas o mundo é pequeno e pessoas tornaram-se mais móveis".  

Para o coordenador da Cruz Vermelha,  a forma mais eficaz de prevenir o ébola é "tomar medidas para formar o pessoal de saúde e voluntários, comunicar as mensagens corretas (...) para que todos estejam preparados (...) se aparecer um caso que viajasse para estes países seria mais fácil de controlar a situação".

A gestão de uma crise epidémica é composta por uma cadeia de elementos interligados em que todos devem funcionar para derrotar a epidemia. Se um elemento do sistema falha, o tempo para conter a epidemia aumenta, assim como o numero de pacientes, sustentou.   

O desafio é que "no sistema inteiro todos elementos têm de estar presentes para que possamos ter o controlo da epidemia de forma rápida e efetiva", refere Panu Saaristo

As atividades de prevenção, de monitorização dos contactos dos
pacientes e de gestão dos corpos são alguns dos elementos desta
cadeia.  

Sendo assim, as epidemias não se podem encarar como um
terramoto, onde geralmente se atinge um pico e depois se vai melhorando
pouco a pouco. 

Este tipo de combate envolve um investimento
inicial elevado para controlar a situação, mas no caso do ébola a
resposta não foi imediata.  

"Geralmente, os surtos de ébola
costumam ser rápidos, explosivos e curtos. Mas, isso não vai acontecer
na África ocidental e não aconteceu. Esperar que o surto acabe não foi
uma boa estratégia. Mas não sabíamos isso antes. (...) Agora a situação
está a ser encarada de forma mais séria pela comunidade humanitária
internacional (...) Estamos a mobilizar mais.", concluiu.  

Desde
de março, a Federação internacional da Cruz Vermelha trabalha em 13
países, Guiné-Conacri, Libéria, Serra Leoa e Nigéria e em grande escala
na Costa do Marfim, Mali, Senegal, Camarões, Benim, Togo, Chade,
Republica Centro Africana e Gâmbia. 

Por Lusa