Mais de 16.000 infetados e perto de 7.000 mortos, essencialmente na África Ocidental, informou no final de novembro a Organização Mundial de Saúde (OMS), que admite que o número real de mortos será muito superior. A taxa de mortalidade rondará os 70%.

O surto iniciou-se na Guiné-Conacri no final de dezembro de 2013, mas o vírus na sua origem só é identificado a 22 de março e já regista 59 mortes.

No final do mês, a Libéria confirma os dois primeiros casos. A Serra Leoa, o terceiro dos países mais afetados, confirma a primeira morte devido ao Ébola a 26 de maio.

Estes três países registam mais de 95% dos mortos. No Mali, o último país atingido, a OMS dá conta de seis mortos em oito casos.

A Nigéria, com oito mortos em 20 casos, e o Senegal, com um doente que se restabeleceu, também integraram a lista dos afetados, mas já foram declarados livres da doença.

Foram ainda registados quatro casos nos Estados Unidos (a 30 de setembro é diagnosticado o primeiro caso de Ébola fora do continente africano) e um em Espanha (confirmado a 06 de outubro o primeiro caso de contágio fora de África, a doente sobreviveu).

340 profissionais de saúde morreram

Na primeira linha do combate à doença, os profissionais de saúde contam-se entre as numerosas vítimas: 340 mortos entre 592 contaminados.

No início de abril, a OMS já classificava a epidemia como uma das “mais assustadoras” desde o aparecimento da doença há 40 anos e, nos finais de junho, os Médicos Sem Fronteiras alertaram que estava “fora de controlo”, assinalando que o surto não tem precedentes quanto à distribuição regional, ao número de infetados e de mortes.

A OMS declara-o "emergência de saúde pública mundial" a 08 de agosto, mas para Peter Piot, codescobridor do vírus Ébola, a agência sanitária da ONU tardou em reagir.

A epidemia “explodiu em países em que os serviços de saúde não funcionam, devastados por anos de guerra (e onde) a população desconfia radicalmente das autoridades”, argumentou Piot.

Em meados de setembro, a ONU anuncia a criação da Missão das Nações Unidas para a Resposta de Emergência contra o Ébola, para coordenar os esforços internacionais e travar a epidemia, cujos efeitos económicos também suscitam preocupação.

O Fundo Monetário Internacional prevê que a epidemia pode reduzir o crescimento das economias da África Ocidental em mais de três pontos percentuais e o Banco Mundial estima que o seu custo possa chegar no pior cenário aos 32 mil milhões de dólares no final de 2015.

O Fundo da ONU para a Alimentação e a Agricultura alertou para uma eventual crise alimentar nos três países mais afetados, com as quarentenas e restrições de deslocações a dificultarem as colheitas e a fazerem disparar os preços dos alimentos.

Transmitido através do contacto com o sangue, outros fluidos corporais ou tecidos de pessoas ou animais infetados, o Ébola provoca febre alta, fraqueza intensa, dores de cabeça, musculares e de garganta a que se seguem os vómitos, a diarreia e, em alguns casos, hemorragias interna e externa. Não existe vacina ou tratamento específico para a doença.

Em meados de agosto, o comité de peritos da OMS aprovou o uso de tratamentos experimentais e alguns doentes foram tratados com uma droga experimental, a ZMapp, cujos testes tiveram resultados promissores na cura de macacos infetados com Ébola.

O “plasma convalescente", de pessoas que sobreviveram à doença, também já foi utilizado no tratamento de infetados e encontra-se entre os três tratamentos clínicos que vão começar a ser testados este mês na Guiné-Conacri e na Libéria, juntamente com dois medicamentos antivirais.

Duas vacinas, desenvolvidas pela GlaxoSmithKline e pela Newlink Genetics, deverão começar a ser testadas no início de 2015 nos países mais afetados na África Ocidental. A primeira, submetida a um ensaio clínico nos Estados Unidos, foi bem tolerada e desencadeou uma boa resposta imunitária.

Para a diretora-geral da OMS, a inexistência de tratamentos, ou vacinas para um vírus conhecido desde 1976 deve-se ao facto de “o Ébola ter sido histórica e geograficamente confinado a nações africanas pobres” e o atual surto “demonstra os perigos das crescentes desigualdades sociais e económicas no mundo”.