A iniciativa cabe ao Centro Hospitalar do Entre Douro e Vouga (CHEDV) e à autarquia local, que anunciaram hoje que o rastreio irá realizar-se no início do próximo ano letivo e deverá abranger cerca de 2.000 crianças com idades entre os três e os seis anos.

A coordenação dos trabalhos vai ser confiada ao diretor do Serviço de Oftalmologia do CHEDV, João Chibante Pedro, que, em declarações à Lusa, explicou que a ocorrência de problemas de visão nessa faixa etária é particularmente sujeita a passar despercebida.

"As crianças com eventual doença oftalmológica - nomeadamente a ambliopia, que também é conhecida como "olho preguiçoso" - não se queixam que veem mal pois não sabem reconhecer o que é ver bem", explicou.

O objetivo do rastreio é, portanto, detetar atempadamente eventuais situações de risco, de forma a haver "tempo para as tratar e dar à criança as condições para que a sua visão se desenvolva de forma normal", evitando limitações futuras.

"A ambliopia que não foi detetada em idade precoce nem foi alvo de tratamento pode condicionar o futuro de uma criança", realçou João Chibante Pedro. "Existem determinadas profissões - como cirurgião, piloto de aviões, polícia ou motorista - que exigem uma boa acuidade visual em ambos os olhos e a existência de ambliopia pode excluir automaticamente uma pessoa desses postos de trabalho", garantiu.

Em termos práticos, o rastreio envolve a deslocação de uma equipa do CHEDV às escolas, onde, com autorização prévia dos pais, essa irá submeter cada criança a uma fotografia com auto-refratómetro pediátrico.

Como nessa idade é possível "ver mal e não ter qualquer tipo de sintomatologia", pupilas de cor branca e reações diferente à oclusão de um olho podem ser "alertas de uma eventual patologia oftalmológica", sobretudo em casos de crianças cujos pais apresentam elevados erros refrativos, como a miopia.

Uma vez analisada a referida fotografia técnica, o resultado é comunicado aos pais da criança e, em caso de deteção de anomalias, a família é encaminhada para uma consulta no CHEDV, para confirmação do diagnóstico.

Para Miguel Paiva, presidente do conselho de administração do CHEDV, esta intervenção precoce é justificada pelo facto de que "a ambliopia afeta 2,5 a 5% da população, constituindo um problema de saúde pública e a principal causa de cegueira monocular entre os 20 e os 70 anos de idade".

Por estarem em causa, contudo, "patologias tratáveis se identificadas numa fase precoce", este responsável propõe: "O desafio que lançamos a nós próprios é que, nesta geração rastreada, a prevalência na idade adulta seja de zero por cento na nossa área de influência [geográfica]".

Hermínio Loureiro, presidente da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis, assegurou que a autarquia "colocará ao serviço do CHEDV todos os meios que o seu diretor entender necessários para que as crianças dos três aos seis anos sejam já neste ano letivo objeto deste rastreio".

"Estamos a falar de cerca de 2000 crianças do ensino público e privado, e temos que enaltecer esta visão preventiva", concluiu.