Mais de 30 por cento da população adulta portuguesa sofre de dor crónica, que é já considerada uma “epidemia silenciosa” que acarreta “custos brutais”.

O investigador José Castro-Lopes, da Faculdade de Medicina do Porto, disse hoje à Lusa que a análise dos cuidados de saúde utilizados pelos doentes com dor crónica permitiu estimar que eles representam aproximadamente 1,6 mil milhões de euros por ano em Portugal.

Se a isto se juntarem os gastos com as incapacidades temporárias para o trabalho por doença (vulgarmente designadas por “baixas”, e que em média representam nove dias por ano em cada doente com dor crónica) e com as reformas antecipadas, conclui-se que “a dor crónica acarreta um custo anual que ultrapassa os três mil milhões de euros, o suficiente para comprar sete submarinos por ano”, sublinhou Castro-Lopes.

Estes dados constam de um estudo realizado por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

“Dão uma boa ideia da magnitude de um problema que tem andado um pouco escondido, em grande parte fruto de convicções sobre a inevitabilidade da dor arreigadas na população em geral, incluindo os profissionais de saúde”, considerou Castro-Lopes, coordenador do estudo.

As principais causas de dor crónica são as doenças musculo-esqueléticas, com as lombalgias associadas a patologias da coluna e as doenças osteo-articulares dos membros inferiores nos primeiros lugares da lista.

Estas doenças crónicas frequentemente não têm cura e a dor constitui o principal problema do doente.

Presentemente, existem opções terapêuticas, farmacológicas e não-farmacológicas, que permitem controlar (o que não significa eliminar) a dor na maioria dos casos, de forma a reduzir o seu impacto na qualidade de vida dos doentes.

No entanto, salientou o investigador, 35 por cento dos doentes com dor crónica incluídos no estudo referiram não estar satisfeitos com a forma como a sua dor estava a ser tratada.

“Mais preocupante ainda é o facto de a dor crónica ter uma duração mediana de 10 anos e uma intensidade moderada ou forte em quase metade dos casos, atingindo também essa intensidade em quase dois terços na dor aguda pós-operatória”, referiu.

A investigação conclui ainda que quase 75 por cento das pessoas submetidas a intervenções cirúrgicas nos hospitais portugueses referem sentir dor no período pós-operatório.

A dor aguda pós-operatória tem consequências que vão além do sofrimento que causa, pois pode provocar, entre outros, problemas respiratórios e cardio-vasculares, diretamente e/ou pelas restrições à mobilidade que condiciona. Além disso, atrasa o processo cicatricial e aumenta o tempo de internamento hospitalar, com as respetivas implicações socio-económicas.

Por outro lado, a dor crónica leva a uma redução acentuada da qualidade de vida das pessoas, que veem o seu dia a dia afetado em múltiplas dimensões.

O estudo demonstrou que o sono e o descanso são afetados pela dor crónica de forma moderada ou grave em quase 40 por cento dos indivíduos, interfere também de forma moderada ou grave nas atividades domésticas e laborais em quase 50 por cento dos casos, e 13 por cento dos doentes tiveram mesmo a reforma antecipada por causa da dor.

Conclui ainda que foi diagnosticada depressão a 17 por cento dos indivíduos com dor crónica, e mais de 20 por cento não tem prazer na vida a maior parte do tempo ou sempre.

07 de outubro de 2011

Fonte: Lusa