“Até hoje não sabemos, não conhecemos as causas” da morte, no domingo, de um voluntário que participou num ensaio clínico da farmacêutica, em França, disse Luís Portela, que falava aos jornalistas, hoje, em Coimbra, depois de ter sido distinguido com o título de doutor ‘honoris causa’ pela Universidade de Coimbra.

“Temos consciência de que, pela nossa parte, fizemos tudo dentro das boas regras, dentro das boas normas, cumprindo tudo direito; temos consciência de que os ensaios pré-clínicos, toxicológicos, que tudo foi conduzido da melhor maneira e sem aparecer nada que indicasse uma coisa destas. Nada”, sublinhou o chairman da empresa.

Aos “cerca de cem primeiros voluntários envolvidos” nos ensaios “nada aconteceu” e, “agora, de repente”, surgiu esta situação, acrescentou o presidente da Bial, vincando que ainda não se conhece o que poderá ter acontecido e que o caso está a ser averiguado “com todo o rigor”.

“Naturalmente que parámos a investigação com esta molécula”, disse Luís Portela, adiantando que farmacêutica só decidirá se vai ou não prosseguir esse estudo, depois de se saber o que se passou: "Estamos afincadamente a procurar saber”, designadamente em colaboração com as autoridades francesas.

Seis voluntários hospitalizados

Na semana passada, seis voluntários, entre os 28 e os 49 anos, foram hospitalizados depois de terem participado no ensaio clínico de Fase 1 para a Bial, que testava uma nova molécula, com atuação a nível do sistema nervoso central, com efeitos provavelmente como analgésico ou a nível de alterações de humor.

Um dos voluntários que participou no ensaio de medicamentos, conduzido por um laboratório privado em França para a farmacêutica portuguesa, faleceu no domingo.

Questionado pelos jornalistas se entende que o caso vai deixar marcas na empresa, Luís Portela afirmou que nem ele, nem a Bial estão “focados nisso”.

“Lamentamos profundamente o que aconteceu, profundamente. Perdeu-se uma vida e isso é absolutamente trágico”, disse Luís Portela.

“Estamos focados em procurar recuperar, em apoiar a recuperação total” dos restantes cinco voluntários que foram internados - um dos quais teve alta clínica na terça-feira.

Sobre o título que lhe foi atribuído pela Universidade de Coimbra (UC), Luís Portela afirmou sentir “uma enorme honra” e que nunca imaginou que “a mais antiga universidade portuguesa e uma das mais antigas da Europa e do mundo” o distinguisse deste modo.

O grau de ‘honoris causa’ foi-lhe atribuído por proposta da Faculdade de Farmácia da UC, que sublinha as “características humanas e nível científico” do homenageado e a “relevância profissional” e a “excelente integração no mundo empresarial farmacêutico”.

“Nome incontornável no panorama nacional e internacional da indústria farmacêutica”, Luís Portela “começou por dirigir [aos 27 anos de idade] uma empresa colocada na 53.ª posição do 'ranking' das companhias farmacêuticas nacionais a operar em Portugal” e que três décadas depois é “a primeira empresa farmacêutica internacional de origem portuguesa, tendo expandido as suas atividades a cerca de 40 países”, salientou, durante a sessão, Amílcar Falcão, vice-reitor da UC, que apresentou o homenageado.