6 de dezembro de 2013 - 10h44
Os doentes oncológicos do Hospital de Torres Vedras correm o risco de perder a única médica, que disse hoje ter apresentado a carta de demissão por dívidas da sua remuneração e recusa no tratamento de doentes operados noutros hospitais.
Conceição Cocco confirmou à agência Lusa que apresentou carta de despedimento há dois meses à administração do Centro Hospitalar do Oeste (CHO) e uma há uma semana em que impõe várias condições para se manter ao serviço, aguardando resposta da instituição até ao final do ano.
"Mantenho a minha disponibilidade, desde que receba o salário a horas e que não sejam recusados doentes que foram operados nos hospitais em Lisboa", afirmou.
Segundo a médica, o Hospital de Torres Vedras recusa por ano entre seis a oito doentes "por uma questão economicista, pouco ética", quando, na sua opinião, um acerto de contas entre as duas instituições em relação aos tratamentos resolveria o problema de terem de "andar quilómetros" até Lisboa.
A administração do CHO não deu resposta a este problema quando contactada por escrito pela Lusa.
A médica, que tinha em atraso a remuneração das horas de serviço desde setembro de 2011, veio a receber os salários, após um "encontro de contas" com o Centro Hospitalar de Lisboa Central confirmado pelo CHO à Lusa, recebendo as remunerações de 2011 e parte de 2012.
Os restantes meses do ano passado foram acertados entre as duas instituições, mas, por questões burocráticas de ordem administrativa, deverá recebê-los até ao final do ano, segundo a garantia que teve do Centro Hospitalar de Lisboa Central.
Contudo, mantém-se a dívida em relação a 2013 e, por isso, a ameaça de demissão, por continuar "a pagar para se deslocar a Torres Vedras, sem receber", uma situação que está a indignar os doentes.
O CHO não adiantou quaisquer prazos para regularização da dívida, esclarecendo que o Hospital de Dia de Oncologia de Torres Vedras "está a funcionar em plena normalidade".
Para Conceição Cocco, estão em causa as consultas e o tratamento de doentes oncológicos, já que é a única médica a assegurar o serviço.
Todas as quintas-feiras, atende por dia 30 doentes num hospital, em que por ano aparecem 130 a 150 novos casos de cancro, com exceção dos tumores do pulmão e da próstata.
No hospital de dia, são seguidos 487 utentes, sendo 98% dos casos doentes oncológicos.
Desde setembro de 2006, data em que a especialista passou a assegurar o serviço por protocolo estabelecido entre os dois hospitais, passaram pela sua consulta 1050 doentes.
"O movimento de doentes justifica a existência de um serviço de oncologia no CHO, com um polo em Torres Vedras e outro em Caldas da Rainha, o que iria evitar que muitas pessoas percorressem quilómetros para serem tratadas em Lisboa", defendeu.
O CHO esclareceu que "não é sua intenção deixar de tratar os doentes oncológicos e que pretende manter esta valência em funcionamento".
Lusa