"Percebemos que tínhamos que adaptar a tecnologia a cada doente para a eficácia do sistema e por outro lado face ao nível cultural baixo dos pacientes selecionados, alguns dos quais nunca tiveram um telemóvel na vida", explicou à Lusa, o diretor do serviço pneumologia, Rui Nêveda.

O projeto de telemedicina, a decorrer há mais de um ano da Unidade Local de Saúde do Alto Minho (ULSAM), acompanha 15 pacientes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), doença que se estima afetar cerca de 5,3% população portuguesa, sendo o tabagismo a maior causa.

"Era impossível colocar o projeto em prática tal como tinha sido desenhado. Foi preciso simplificar toda a tecnologia, adaptando-a ao doente porque todos são diferentes, tem níveis de escolaridade diferentes, apesar de todos terem uma patologia grave", explicou.

Há 23 anos responsável pela área de pneumologia do hospital da capital do Alto Minho, Rui Nêveda apontou que o "segredo do sucesso" deste projeto passou por "aliar a tecnologia ponta ao conhecimento médico".

A plataforma tecnológica foi desenvolvida por uma empresa especializada, e o "algoritmo criado para cada doente resultou da investigação do corpo clínico".

"O sucesso passou muito pela equipa que está envolvida, que foi a casa de cada um dos 15 doentes conhecer as famílias, perceber as condições em que vivem. O que provamos é que é possível usar tecnologia desde que bem explicada e adaptada ao doente", sublinhou.

Com aquela aplicação "o doente coloca o dedo no oxímetro, e os parâmetros do seu estado de saúde são transmitidos para o sistema, sediado na unidade de cuidados intensivos do hospital, permitindo, em tempo real, a avaliação dos dados", sublinhou.

"Os resultados são excelentes. Há uma redução de 50% de idas ao serviço de urgência e, consequentemente, uma redução em cerca de 70% de internamentos", adiantou Rui Nêveda.

"Isto não é um 'call center'. Não é alguém impessoal que está do outro lado do telefone a dar indicações. Preservamos as relações humanas entre o paciente e o profissional de saúde e, por isso, é um sistema que transmite muita segurança", frisou.

Manuel Gaivoto, de 79 anos, residente na cidade é um dos 15 doentes seguidos naquela unidade e que ainda tem bem presentes as "idas diárias" à urgência.

"Ia tantas vezes ao hospital que só não corriam comigo por pena. Cheguei a ter mais de 70 internamentos. Um dia, o médico disse-me: você fuga daqui porque o ministro da Saúde se vê isto acaba-lhe com a reforma", afirmou brincando com a situação que viveu.

Desde que integrou o projeto, a urgência "é só para casos muito graves", garantindo sentir-se "mais seguro a ser tratado em casa".

"Sinto que tenho a equipa ao pé de mim. A tal ponto que ainda há dias, por ter as mãos frias, ao medir, no oxímetro as saturações de oxigénio, com o dedo frio os valores estavam alterados. O enfermeiro ligou-me logo para casa a saber o que se estava a passar. Nesse aspeto sou um privilegiado", explicou.

A rotina diária de Manuel Gaivota começa com a medição da saturação de oxigénio, da temperatura corporal, da diabetes, da tensão arterial.

"Eu próprio posso controlar a minha doença e mandar os dados para o doutor e os enfermeiros. Este sistema trouxe-me mais qualidade de vida, apesar da doença crónica", rematou.

Os "excelentes" resultados alcançados com a telemonitorização da DPOC levam o serviço de pneumologia a querer alargar a tecnologia aos 260 doentes identificados no Alto Minho.

"Todos têm direito a integrar este projeto mas para isso é preciso uma estrutura mais profissional e mais recursos", apontou.

Atualmente o projeto envolve quatro médicos e 22 enfermeiros dos cuidados intensivos.