28 de maio de 2013 - 10h02
Os doentes anestesiados no Hospital de Braga correm riscos, há carência de material, excesso de médicos tarefeiros e quem denuncia os problemas do hospital sofre pressões por parte da administração, alertou hoje o Sindicato Independente dos Médicos (SIM).
Em declarações à agência Lusa, à margem de uma conferência de imprensa para explicar os motivos pelos quais os médicos anestesistas do Hospital de Braga vão fazer greve nos dias 30 e 31, o secretário-geral do SIM, Jorge Roque, explicou que esta ação de luta pretende "acima de tudo preservar os direitos dos doentes".
O Hospital de Braga é gerido pelo Grupo Mello Saúde numa parceria público privada com o Estado, o que, segundo o responsável sindical, "devia ser mais um garante" da qualidade de serviços prestada.
Segundo Jorge Roque, "está em causa a qualidade do serviço prestado, os direitos dos médicos anestesistas" e "os doentes correm riscos ao serem anestesiados no Hospital de Braga embora os profissionais sejam da melhor qualidade".
O vice-presidente do Conselho Nacional do SIM, Carlos Santos, disse que não queria ser tratado na unidade gerida pelo Grupo Mello.
"Eu, cirurgião geral há 34 anos não me deixava anestesiar no Hospital de Braga por correr um risco de me aparecer um tarefeiro", declarou.
O sindicalista lembrou à Lusa algumas das queixas e falhas apontadas pelos profissionais do hospital bracarense às quais, disse, "a administração do Hospital não dá respostas".
"Há um excesso de contratação de médicos tarefeiros em detrimento da contratação de mais profissionais. A consequência é que o médico chega, anestesia sem conhecer o doente e depois vai-se embora sem haver linha de acompanhamento do paciente", disse.
Salas utilizadas para outros efeitos
Outro ponto salientado pelo responsável é a "utilização das salas que deviam estar disponíveis apenas para intervenções de urgência mas que estão a ser utilizadas para cirurgias programadas".
Roque apontou também a "carência de material que já foi dada a conhecer à administração, mas que esta tarda em dar seguimento" e "o facto de no Hospital de Braga não ser respeitada a existência, no serviço de anestesiologia, de um assistente graduado sénior a dirigir o serviço".
O sindicalista disse ainda "que os médicos que denunciam estes e outros problemas são alvo de atitudes persecutórias por parte da administração do hospital que se traduzem na atribuição de horários, por exemplo".
Por isso, reafirmou, "o SIM dá todo o apoio à ação de luta dos anestesistas do Hospital de Braga", lembrando que "a greve é o ultimo recurso pois os médicos têm consciência das complicações que pode acarretar".
Num comunicado enviado à Lusa, também o Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos se prenuncia sobre a greve agendada para dias 30 e 31 no Hospital de Braga.
"O CRN, com base nos valores e princípios que defende, e dada a natureza e potencial gravidade das razões invocadas pelos médicos de anestesiologia, vem publicamente apelar a um entendimento urgente com a Direção do hospital de Braga para que sejam encontradas soluções que permitam resolver as várias questões elencadas no comunicado do SIM", lê-se.

Comunicado do Hospital de Braga

Num comunicado enviado à redação do SAPO Saúde, a direção do Hospital de Braga atesta que a "qualidade dos serviços de saúde prestados e a segurança do doente são para o Hospital de Braga pilares essenciais do desenvolvimento da sua actividade, pelo que refuta veementemente os argumentos apresentados que questionam a segurança do doente no Bloco Operatório".
A direção acrescenta ainda que o Hospital de Braga "cumpre escrupulosamente as regras de organização do trabalho médico, não exigindo a nenhum profissional que desenvolva actividade adicional" e que "em vindo a promover, e continua disponível para manter, um diálogo constante com os profissionais de Anestesiologia no sentido de identificar eventuais oportunidades de melhoria".


SAPO Saúde com Lusa