A redução dos níveis de colesterol em doentes renais crónicos pode evitar um quarto dos ataques cardíacos, enfartes e intervenções para desobstrução das artérias, revela um estudo mundial sobre doenças dos rins.

O estudo SHARP (Study of Heart and Renal Protection), divulgado pela sociedade americana de nefrologia, envolveu quase 9.500 voluntários com 40 anos ou mais que sofrem de doença renal crónica recrutados em 380 hospitais de 18 países.

Os doentes que participaram neste estudo perderam cerca de 50 por cento do normal funcionamento renal e um terço realiza tratamentos de diálise. Nenhum dos participantes no estudo sofreu anteriormente ataques cardíacos, nem necessitava de bypass ou de ‘stents’ para desobstruir as artérias do coração.

O presidente da Sociedade Portuguesa de Nefrologia disse à Lusa que este estudo incluiu um dos maiores números de doentes com doença renal crónica e demonstrou “a importância e segurança de utilizar uma conjugação de fármacos para diminuir o nível circulante de colesterol LDL (a forma mais associada a complicações ateroescleróticas de colesterol)”.

Com esse efeito é possível “obter uma redução significativa no número de complicações cardiovasculares”, observou Fernando Nolasco

“O estudo demonstrou, nestes 9.500 doentes com insuficiência renal seguidos por nefrologia ao longo de cinco anos, que é útil seguir esta abordagem terapêutica, não existindo aumento de complicações relacionadas com o tratamento (nas doses utilizadas) como se poderia suspeitar”, acrescentou o nefrologista.

O investigador responsável pelo estudo, Colin Baigent, considerou que “são notícias excelentes” para os doentes: “Já era do nosso conhecimento que a redução do colesterol poderia diminuir o risco de ataques cardíacos, enfartes e a necessidade de intervenções cirúrgicas em artérias bloqueadas em pessoas com um normal funcionamento do sistema renal”.

No entanto, acrescentou Colin Baigent, este estudo demonstra agora que a redução do colesterol apresenta efeitos semelhantes em pessoas com doença renal crónica, independentemente da gravidade da doença.

O estudo SHARP teve início em meados dos anos 90 com dois estudos piloto, a que se seguiu este estudo principal, com início em 2003 e terminado em setembro de 2010

Durante este prolongado estudo, a proporção de doentes que interrompeu o tratamento foi de cerca de um terço, não estando esta interrupção associada, de modo geral, a efeitos secundários, sendo igualmente proporcional tanto para os tratamentos reais como para os simulados.

No entanto, se administradas sem interrupções, as substância ativas Ezetimiba e a Sinvastatina poderiam ter efeitos ainda mais significativos do que os observados através do estudo SHARP, reduzindo potencialmente os riscos em cerca de um quarto, refere a investigação.

A doença renal crónica afeta uma em cada dez pessoas em todo o mundo. Em Portugal, estima-se que cerca de 800 mil pessoas deverão sofrer desta doença.

A progressão da doença é muitas vezes silenciosa, isto é, sem grandes sintomas, o que leva o doente a recorrer ao médico tardiamente, já sem possibilidade de qualquer recuperação.

As pessoas com doença renal crónica apresentam um risco bastante elevado de desenvolverem doenças cardíacas ou de virem a sofrer de enfarte.

09 de março de 2011

Fonte: LUSA/SAPO