A esclerose múltipla, que pode causar incapacidade, atinge cerca de cinco mil pessoas em Portugal, mas só metade recebe tratamento que continua a ser gratuito, afirmou hoje uma especialista.

A neurologista Lívia Sousa disse à agência Lusa que as estimativas apontam para a existência de, em média, "cinco mil doentes em Portugal", estando em tratamento "cerca de 2.500, o que quer dizer que provavelmente há bastantes casos que não estão ainda diagnosticados".

Esta situação pode ter a ver com o facto de tratar-se de "casos mais benignos, de pessoas que não tiveram acesso a um neurologista, casos em que a doença ainda não se tenha manifestado ou por falta de consciencialização para a própria doença", especificou Lívia Sousa, chefe da equipa das consultas de esclerose múltipla e doenças similares nos hospitais universitários de Coimbra.

Nesta como em outras doenças, "o tratamento é tanto mais eficaz quanto mais cedo for administrado", salientou.

A especialista explicou que todos os medicamentos indicados para a doença "são administrados gratuitamente aos doentes a nível hospitalar", acrescentando que "o médico tem de ter alguma consciência porque são medicamentos muito dispendiosos"

Questionada se estes doentes tinham sido afetados pelas medidas de contenção de custos na área da saúde, respondeu: "até agora felizmente ainda não tivemos problemas".

Para os medicamentos de "primeira linha", o custo é de cerca de 800 euros por doente e por mês, nos outros o valor situa-se entre 1.500 a 1.600 euros.

"A nível hospitalar, o preço é muito caro, para os hospitais fica muito dispendioso, mas em termos de saúde nacional e saúde pública, é um nicho de mercado", disse a especialista, salientando que "as medicações são caras, mas o número de pessoas que as utiliza é relativamente pequeno em relação, por exemplo, aos anti-inflamatórios, antibióticos ou outras substâncias são usadas por muita gente".

Os sintomas mais frequentes da esclerose múltipla são falta de força em um ou mais membros, alterações da visão (visão dupla ou perda de visão de um dos olhos), alterações do equilíbrio e da coordenação, e alterações da sensibilidade.

Lívia Sousa referiu a existência "essencialmente" de duas formas da doença, com evolução por surtos ou as situações em que a doença é progressiva.

Embora a evolução da doença varie muito, "ao fim de 10 a 15 anos, 40 por cento dos doentes já tem uma incapacidade considerável", acrescentou.

A doença afeta mais de um milhão de pessoas em todo o mundo e estudos epidemiológicos apontam para a existência de 450.000 pessoas com a doença só na Europa, sendo a incidência maior nos países nórdicos.

A esclerose múltipla é uma doença inflamatória crónica, desmielinizante e degenerativa, do sistema nervoso central que interfere com a capacidade de controlar funções como a visão, a locomoção ou o equilíbrio.

O Dia Mundial de Esclerose Múltipla assinala-se na quarta-feira.

24 de maio de 2011

Fonte: Lusa/SAPO