Francisco George falava na apresentação do relatório “Portugal – Saúde Mental em Números 2015”, no qual se lê que a taxa de mortalidade por suicídio passou para 11,7 por 100 mil habitantes, em 2014, quando em 2012 e 2013 tinha sido de 10,1, por 100 mil habitantes.

“Não sabemos, nem podemos medir, a evolução do suicídio em Portugal, devido a uma quebra de série”, disse o diretor-geral da Saúde, acrescentando que, por esta razão, não se pode dizer que houve um aumento do suicídio.

Até 2014, explicou, o certificado de óbito era em papel assinado pelo médico. “Muitas vezes – por pressão da família ou por motivos religiosos – o suicídio era subnotificado”, pelo que “terão existido mais suicídios do que os notificados”.

Há dois anos, iniciou-se uma nova série, com o registo eletrónico, que “veio reduzir a subnotificação”, disse Francisco George.

Esta dificuldade em medir o suicídio é “motivo de inquietação” para o diretor-geral da Saúde.

O relatório, que foi apresentado em Lisboa esta quinta-feira, analisou a variação da mortalidade por suicídio, ao longo de três intervalos de tempo (1989-1993, 1999-2003 e 2008-2012), concluindo que o período mais recente – “de crise” – apresentou “a mortalidade por suicídio mais alta", assim como "a taxa bruta mais alta”.

Entre 1989-1993 e 1999-2003, a taxa de suicídio tinha diminuído 5,4%; já desde o segundo período até 2008-2012, registou-se um aumento de 22,6%.

Segundo este estudo por intervalos temporais, os homens apresentam uma taxa de suicídio três vezes maior, assim como os maiores aumentos de taxa, entre os diferentes períodos de tempo analisados.

Há também uma distribuição geográfica marcada no suicídio, que é tradicionalmente menor no Norte e maior na região Sul.

Nas últimas décadas, contudo, esta divisão geográfica Norte/Sul parece ter vindo a esbater-se, “devido ao aumento das taxas na região Centro e no interior da região Norte”.

O estudo encontrou ainda uma associação estatística entre os altos níveis de ruralidade e de privação material e a taxa de suicídio aumentada para os homens.

São mudanças recentes nestes padrões que poderão resultar do atual período de crise, indica o relatório.