"A sensação de falta de ar é assustadora", confirma Isabel Saraiva, vice-presidente da Respira, Associação Portuguesa de Pessoas com DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica) e outras Doenças Respiratórias Crónicas. Mas falar é fácil. O difícil é senti-lo, como acontece com estes doentes.

Fuma e é jovem? Médicos pneumologistas recomendam que faça um novo exame
Fuma e é jovem? Médicos pneumologistas recomendam que faça um novo exame
Ver artigo

É por isso que, a propósito do Dia Mundial da DPOC, que este ano se assinala a 21 de novembro, a Respira, a Fundação Portuguesa do Pulmão e a Associação Portuguesa de Medicina Geral de Familiar (APMGF) desafiam os portugueses a tapar o nariz e respirar através de uma palhinha, inspirar e expirar, e fazê-lo repetidas vezes. Porque este é também o desafio diário de quem vive com DPOC, um desafio de cortar a respiração.

O que lhe vai acontecer?

"Os pulmões vão fazer um esforço extra, as mãos vão suar e as pessoas vão poder parar quando quiserem, ao contrário dos 800 mil doentes em Portugal, a quem a doença corta a respiração a cada minuto. Para ajudar na divulgação, pede-se a quem aceitar este desafio que registe, com uma fotografia, esse momento de bravura e o partilhe nas redes sociais, com #cortararespiração. Para que, juntos, possamos dar um novo ar ao ar que os doentes sentem cortado", explica o Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias (GEDR) em comunicado.

As pessoas reconhecem a bronquite crónica, mas a DPOC ainda não

"Esta é uma forma de chamarmos a atenção das pessoas para a sua saúde respiratória", diz Isabel Saraiva. Isto porque, acrescenta, "a DPOC continua a ser subdiagnosticada, já que os sintomas não são valorizados". De facto, refere o médico Rui Costa, "as pessoas reconhecem a bronquite crónica, mas a DPOC ainda não".

O tabaco faz rugas e estrias, mas não só. 10 motivos para abandonar este vício
O tabaco faz rugas e estrias, mas não só. 10 motivos para abandonar este vício
Ver artigo

Tosse, cansaço frequente, dificuldades respiratórias são sintomas que, ainda que sentidos por muitos, tendem a ser desvalorizados, sobretudo pelos fumadores, os que mais sofrem com a doença. "Noventa por cento dos casos de DPOC estão relacionados com o tabaco", esclarece o também médico José Alves, da Fundação Portuguesa do Pulmão, que junta outro número: "Um quinto dos fumadores vão desenvolver DPOC".

"Não podemos esperar pelos 40 anos para fazer as espirometrias, o exame que confirma a DPOC. Temos de o fazer mais cedo, mesmo junto dos fumadores jovens, porque a doença leva a uma perda da função respiratória que não é recuperável. Por isso, quando mais cedo for detetada, menor será essa perda", assevera o clínico.

Pouco acesso

Rui Costa concorda que a espirometria é "um exame essencial, fundamental e obrigatório". No entanto, nem sempre de fácil acesso. "A nível nacional, há uma iniquidade no acesso a este exame, que a rede nacional de espirometrias tem procurado colmatar".

Os doentes devem andar, fazer exercício, mas como se cansam muito, costumam 'defender-se' ficando parados

Para os doentes, são vários os desafios. Isabel Saraiva identifica os principais e começa por "deixar de fumar. Isto é muito difícil e não basta dizer que se vai deixar, mas é preciso procurar ajuda juntos das consultas de cessação tabágica". Depois, manter alguma atividade, o que também nem sempre é tarefa fácil. "Os doentes devem andar, fazer exercício, mas como se cansam muito, costumam 'defender-se' ficando parados".

15 truques para deixar de fumar num ápice (segundo a DGS)
15 truques para deixar de fumar num ápice (segundo a DGS)
Ver artigo

"Os doentes com DPOC são dos mais sedentários", confirma Rui Costa. "Como têm dificuldade em respirar, vão evitando fazer exercício ou atividades da vida diária e isso leva a uma atrofia muscular, por alterações ao nível musculoesquelético. Quanto mais ativo fisicamente, melhor o prognóstico e melhor a sobrevida. Mesmo que seja difícil, em vez de uma caminhada de 30 minutos, devem fazer caminhadas mais curtas, ao longo do dia".

À necessidade de exercício, José Alves junta a reabilitação respiratória, "que historicamente aparece no fim do tratamento, quando não há muito mais a fazer, quando de facto pode e deve ser feita desde o início, mesmo que não haja ainda a questão da falta de oxigénio. E pode ser feita por profissionais fora do ambiente hospitalar".

No entanto, como salienta Isabel Saraiva, ainda que esta seja "uma das formas mais eficazes de dar aos doentes uma melhor qualidade de vida, há poucos centros que o disponibilizam e a maioria são nos hospitais, com ambientes que não são bons para os doentes com DPOC".