Investigadores da Universidade do Minho descobriram que ratos expostos antes do nascimento a uma substância dada frequentemente a grávidas revelam maior propensão para a adição, mas também descobriram que esse comportamento é reversível através de outro fármaco.

A equipa de cientistas, liderada por Ana João Rodrigues e Nuno Sousa, avaliou "as consequências da administração de glucocorticoides (hormonas de stress), tipicamente administradas em situação de ameaça de parto pré-termo em grávidas, num modelo animal (ratos)", explicou à Lusa o coordenador do estudo.

"Avaliámos as crias quando elas eram adultas. Avaliámos o comportamento das crias em testes que determinam a suscetibilidade para comportamentos aditivos. Demonstrámos que estes animais de facto têm um aumento da propensão para procurarem substâncias aditivas", disse Nuno Sousa, que é também director do Curso de Medicina da Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho.

Ao procurar os mecanismos cerebrais que contribuem para esta propensão, os investigadores verificaram que havia áreas do cérebro que tinham alterações, que os níveis de dopamina no circuito cerebral ligado ao prazer estavam diminuídos nestes animais e que os recetores que sinalizam o aumento de dopamina estavam aumentados.

Ou seja: "aqueles comportamentos, que naqueles animais levavam à propensão para o consumo de substâncias aditivas, estavam relacionados com as alterações da estrutura e da função cerebral".

Tentaram então administrar um tratamento com um fármaco, usado por exemplo em doentes com Parkinson, para aumentar a dopamina (neurotransmissor que atua no cérebro promovendo, entre outros efeitos, a sensação de prazer) e verificaram que era possível reverter estas alterações comportamentais, estruturais e neuroquímicas.

"Se déssemos um tratamento agudo [durante três dias] com este fármaco, havia uma reversão, mas era transitória. Se fizéssemos tratamento prolongado [durante três semanas], a reversão era sustentada ao longo do tempo", adiantou Nuno Sousa.

Segundo Ana João Rodrigues, estes resultados sugerem que, "com uma abordagem farmacológica relativamente simples - a restauração dos níveis de dopamina - podemos vir a tratar, e mais importante, potencialmente prevenir, a toxicodependência em indivíduos vulneráveis".

Nuno Sousa concorda: "É um estudo em modelo animal, não podemos garantir que os resultados sejam transferíveis para humanos de forma linear, mas se se vierem a provar - e estes estudos ainda não foram efetuados - podemos estar na presença de um melhor entendimento de como podemos intervir para diminuir o risco de desenvolver adição em indivíduos com risco aumentado".

Os glucocorticóides são administrados a grávidas nos casos em que há risco de parto pré-termo, já que um dos principais problemas é a falta de maturidade pulmonar do feto e estes medicamentos aumentam a maturidade pulmonar. Entre 5 e 10 por cento das gravidezes correm risco de ameaça pré-termo.

02 de novembro de 2011

@Lusa