Em 2015, a Organização Mundial de Saúde (OMS) escolheu “a dignidade na saúde mental” como tema para esta efeméride, para combater os estigmas associados e as ameças à dignidade humana que estas patologias acarretam.

“As demências são as doenças mentais que mais interferem com a dignidade do doente, mas nem sempre é só a doença que é uma ameaça para a dignidade do doente mental. A forma como o tratamos e o enquadramos também pode interferir. Esperar demasiado tempo por uma consulta de psiquiatria, por exemplo, não é tratar com dignidade. Quando o doente é rejeitado pela família, no emprego, pela sociedade, os seus direitos e a sua dignidade como ser humano não estão a ser respeitados”, explica a psiquiatra e presidente da SPPSM.

A especialista realça também que “as patologias psiquiátricas mais graves, como as psicoses, que atingem as funções cognitivas, podem tornar as pessoas muito vulneráveis e reduzir a sua autonomia e a sua capacidade de decisão. Estas pessoas têm a consciência do mundo e de si próprias muito alterada e ficam dependentes de decisões clínicas e de tratamento não tendo capacidade para dar o seu consentimento informado. Podem ser profundamente afetadas na sua dignidade humana se a sociedade não estiver organizada para as proteger. Não devem ser objeto de investigação científica (por exemplo, sujeitas a tratamentos experimentais) sem um consentimento informado do seu representante legal. Os seus direitos devem ser respeitados e o tratamento deve ser planeado de acordo com as boas práticas clínicas e requisitos éticos”.

Em Portugal, é nos mais jovens, entre os 18 e os 34 anos, que se verifica uma maior prevalência de doença mental estimando-se que 50,1% tenham pelo menos uma perturbação psiquiátrica. Neste grupo etário, as entidades mais referidas foram as perturbações da ansiedade, seguidas das afetivas e do abuso de álcool.

Grande parte da percentagem de perturbações de ansiedade é à custa das chamadas “fobias específicas” habitualmente associadas a um menor impacto no funcionamento global.

O único estudo epidemiológico que foi feito para a população portuguesa foi realizado pelo grupo coordenado pelos Professores Caldas de Almeida e Miguel Xavier da Faculdade de Medicina da Universidade Nova intitulado – “Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental” cujo primeiro relatório foi publicado em 2013. Desse estudo salienta-se que o grupo de doenças com maior prevalência anual (12 meses anteriores ao estudo) foi o das perturbações de ansiedade (16,5%), seguindo-se o das perturbações afetivas com 7,9%.

Os valores encontrados são superiores a qualquer outro país da Europa Ocidental onde, patrocinado pela Organização Mental de Saúde, foi feito um estudo epidemiológico com uma metodologia semelhante. Portugal e a Irlanda do Norte têm a prevalência mais elevada de doenças mentais da Europa. É no grupo das perturbações de ansiedade que os dados de Portugal mais se destacam. De notar que neste grupo estão incluídos vários síndromes ansiosos, desde as fobias isoladas ou específicas, a perturbação de pânico, a ansiedade generalizada, a fobia social, a perturbação pós stress traumático, entre outras.