11 de março de 2013 - 16h54
O diretor do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular do Porto (IPATIMUP) disse hoje que “a frágil formação superior dos políticos” e os cortes financeiros impostos pela troika são um “cocktail perigoso” para a investigação nacional.
“Se continuarem a cair sobre nós os cortes do Estado, a instituição pode estar em perigo. O Governo faz cortes cegos e acéfalos a toda a gente, sem avaliação. Isto é mortal”, sublinhou à Lusa Sobrinho Simões.
O responsável falava à Lusa sobre anunciada redução de 25,2% nas transferências do Estado para o instituto criado há 24 anos, que em 2012 teve o “melhor ano da sua vida”.
“Os nossos políticos têm um problema. Muitos deles tem uma formação superior muito frágil e não se apercebem do valor do ensino superior e da investigação. São vítimas da sua própria fraqueza. Por outro lado temos os ciclos eleitorais e, se juntarmos a isto a troika, temos um cocktail perigoso”, afirmou Sobrinho Simões.
“O Estado pensa que pode haver ensino superior e investigação sem instituições. Não pode. Há uma ideologia, que não sei se é propositada ou se é incapacidade ou incompetência, de que é possível os génios florescerem em qualquer sítio, mesmo que não haja condições. Não há”, sublinhou.
“Não é preciso fazer um mestrado para perceber isto”, ironizou.
Problema é comum aos dois maiores partidos
O diretor do IPATIMUP alerta que a “incompetência” e a “pouca sensibilidade” é transversal aos dois partidos que alternam no poder.
“Não posso estar a preparar pessoas para responder ao ciclo eleitoral do PSD ou do PS. Nesse aspeto são os dois muito parecidos: vivem muito um universo fechado, pouco sensível à investigação e produção científica, porque a única preocupação é assegurar a sua reeleição ou a dos amigos ou dos correligionários”, criticou.
O que o diretor esperava do Governo era que “avaliasse as instituições e selecionasse as melhores que seriam recompensadas e consolidadas”, ao mesmo tempo que “fizesse a diminuição de atividade e fecho das piores”.
O IPATIMUP soube recentemente que a verba de 1,2 milhões de euros” atribuída em 2012 passaria, “na melhor das hipóteses , para 920 mil euros, ou seja, um sexto ou um sétimo do orçamento de seis milhões de euros”.
“Estamos afogados no nosso próprio sucesso. No limite não devíamos estar a fazer nenhum doutorado… Pois se não há possibilidade de eles terem uma solução profissional em Portugal…”, observou.
Assegurando que o IPATIMUP está “muitíssimo bem”, tanto na parte científica como financeira (são esperados resultados positivos no fecho das contas de 2012), o responsável sustenta que “o problema é quanto mais tempo” pode o instituto “continuar bem se continuar a haver um desinvestimento do Estado nas instituições de ensino superior e de investigação”.
“Temos vindo a emagrecer, mas se continuarmos neste processo qualquer dia morremos”, avisou.
Lusa