1 de novembro de 2013 - 09h37
Um estudo encontrou efeitos negativos da contaminação no estuário do Sado, nas espécies pescadas pela população da Carrasqueira, e índícios de consequências na saúde, mas são necessárias mais análises para confirmar qualquer relação "causa-efeito".
O trabalho, coordenado pelo Instituto do Mar (IMAR) em parceria com o Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA), permite concluir que "há efeitos adversos a nível de risco ecológico, ou seja, nos organismos recolhidos junto dos pescadores", disse hoje à agência Lusa a coordenadora do projeto "Avaliação do Risco Ambiental de um Ambiente Estuarino Contaminado - o caso do estuário do Sado".
Os cerca de 300 habitantes da Carrasqueira vivem fundamentalmente daquilo que pescam e cultivam em pequenas hortas e a localidade foi escolhida como "piloto" para analisar os efeitos da contaminação por vários poluentes na saúde humana.
"Em relação ao estudo epidemiológico, concluiu-se que há uma via de contaminação importante da população porque ela fundamentalmente alimenta-se destes organismos" e, na comparação com uma povoação controlo com características semelhantes, Vila Nova de Milfontes, no estuário do rio Mira, registam-se mais casos de algumas doenças, como do fígado, referiu Sandra Caeiro.
No entanto, a professora da Universidade Aberta e investigadora no CENSE (Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa salientou que "o estudo epidemiológico em si não permite tirar conclusões de causa-efeito".
"Notamos que há indícios de efeitos na saúde, mas necessitamos de mais estudos para ter dados mais conclusivos", nomeadamente análises ao sangue dos habitantes, insistiu.
Já se sabia da existência de contaminação resultante da acumulação de poluentes no estuário ao longo dos anos, através das descargas de efluentes domésticos, industriais e de atividades agrícolas, depositados no sedimento.
O trabalho pretendeu avaliar o risco ambiental, ecológico e risco para a saúde humana associado às espécies do estuário, pescadas pelos habitantes, como choco, linguado ou ameijoa, e também foram realizadas análises aos produtos hortícolas das hortas da Carrasqueira mais ingeridos, como batata ou alface, para detetar contaminantes.
Perante os dados de Vila Nova de Milfontes, foi detetado que "há diferenças significativas e a população da Carrasqueira tem determinadas características em termos de saúde que a outra não tem, nomeadamente doenças do fígado e outras que sabemos poderem estar associadas a contaminantes existentes no estuário, como metais ou contaminantes orgânicos", explicou Sandra Caeiro.
Financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e pela Comunidade Europeia, o projeto incluiu um inquérito detalhado à população sobre o estado de saúde e as dietas alimentares e análises aos organismos estuárinos.
Os contaminantes com valores acima da referência foram, numa área de pesca a norte, perto da zona industrial, o zinco, o cobre e os hidrocarbonetos poliaromáticos - compostos orgânicos persistentes, e na zona a sul o zinco.
A investigadora disse que a administração regional de saúde pretende avançar com medidas de sensibilização e recomendações junto dos pescadores sobre cuidados de prevenção, por exemplo, na apanha da ameijoa.
Lusa