21 de fevereiro de 2013 - 09h22
O psiquiatra Pedro Afonso alertou hoje para o aumento exponencial do consumo de antidepressivos e ansiolíticos em pessoas maiores de 65 anos, afirmando que sem esta ferramenta terapêutica o número de suicídios seria maior nesta faixa etária.
O especialista no Hospital Júlio de Matos, do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, falava à agência Lusa a propósito de dados que serão divulgados no encontro “Avanços e controvérsias em Psiquiatria”, que decorre na sexta-feira, na Ericeira.
Os dados, fornecidos pela consultora IMS Health indicam que em 2012 foram prescritos 7.753.193 ansiolíticos e 6.095.634 antidepressivos.
Em relação a 2011, registou-se um aumento da venda de antidepressivos e estabilizadores de humor na ordem dos 7,7 por cento e de 1,2 por cento na venda de ansiolíticos.
O aumento foi exponencial na prescrição destes fármacos a maiores de 65 anos que subiu de 1.739.406 em 2011 para 3.577.838 em 2012, no caso dos ansiolíticos, e de 1.439.591 em 2011 para 2.297.880 em 2012, nos antidepressivos e estabilizadores de humor.
Para Pedro Afonso, existem vários fatores que têm levado ao aumento do consumo destes fármacos, a começar pela redução dos rendimentos através da diminuição das reformas.
“São pessoas que, em muitos casos, já estão fragilizadas pela doença e que veem frustradas as suas expectativas em relação ao futuro”, disse à Lusa.
Mais frágeis, estas pessoas deparam-se com a dificuldade acrescida de terem de ajudar os filhos e sofrem também com a sua condição de desempregados e sem maneira de honrar os compromissos.
“Muitas vezes estes idosos têm de acolher os filhos em casa e até de sustentá-los, apesar de receberem menos dinheiro”, adiantou.
Pedro Afonso garante que estes casos são aos milhares em todo o país e refletem a pressão enorme a que este idosos estão sujeitos, a que acresce, em muitos casos, a solidão em que vivem.
Sobre o consumo destes medicamentos, o psiquiatra não tem dúvidas de que esta ferramenta terapêutica tem evitado um maior número de suicídios.
“Não podemos resolver os problemas destas pessoas, mas apenas oferecer algum alívio ao seu sofrimento e às vezes conseguimos esse alívio através do tratamento”, concluiu.
Lusa