"A Comissão Europeia está muito interessada neste tipo de práticas que são ao mesmo tempo ambientalmente sustentáveis e positivas para a saúde dos indivíduos", disse hoje à agência Lusa a investigadora e psicóloga social do Centro de Investigação e Intervenção Social (CIIS) do ISCTE, que participa no trabalho com elementos de 15 países.

O projeto chamado "Inherit" (herdar) recebeu um financiamento de seis milhões de euros de Bruxelas e contempla uma "parte de avaliação de práticas, subjetiva, ou dos efeitos que os indivíduos percebem, e de indicadores de saúde, e económica, de custos-benefícios, o que é muito inovador", explicou.

Numa primeira fase são analisadas 20 práticas, incluindo o projeto português das hortas comunitárias, um serviço em termos ambientais e de respeito pela sustentabilidade, mas também de "promoção da saúde e [contra] a desigualdade na saúde, nomeadamente fornecendo às famílias com mais carências a possibilidade de terem uma alimentação saudável", listou Sibila Marques.

O movimento Re-food é o outro exemplo referido pela investigadora e que, "além de evitar o desperdício de comida, por isso do ponto de vista ambiental é sustentável, também promove a saúde e a distribuição de comida pelas pessoas que, muitas vezes, têm algumas carências".

Dos 20 projetos serão escolhidos três para replicar nos restantes países, numa seleção que terá em conta as características culturais, sociais, ambientais e económicas de modo a cumprir o objetivo de "pôr as pessoas a pensar numa nova forma de vida".

O projeto vai identificar práticas na Europa, em vários países europeus, e destas chegar a três para seguir "numa avaliação muito rigorosa e científica" para perceber quais os seus impactos para a saúde dos indivíduos e para o ambiente, segundo a apresentação da investigadora do ISCTE.

A outra faceta no projeto, explicou, vai permitir realizar "uma espécie de cenarização" em que se pede a vários 'stakeholders' importantes, como políticos, pessoas das indústrias ou da educação, que pensem num cenário da Europa em 2050 e na forma de concretizar algumas destas práticas, dentro de 35 anos.

"No fundo é preparar uma nova forma de vida através de alternativas que começam hoje a surgir pontualmente e tentar expandi-las para que sejam adotadas em maior escala", realçou Sibila Marques.

Apostando na credibilidade científica, o projeto começa em 2016, será desenvolvido ao longo de quatro anos pelos parceiros, de universidades a institutos públicos de saúde, sendo coordenado pelo professor de epidemiologia e saúde pública da University College London Michael Marmot, "referência mundial na área das desigualdades em saúde".