Cerca de 42 mil portugueses morreram de cancro em 2010, representando um aumento de 20 por cento em relação a 2009, revelou hoje a organização de um congresso que vai debater, no Porto, a prevenção oncológica e os direitos dos doentes.

“A tendência será aumentar devido ao envelhecimento da população e às mudanças nos estilos de vida”, acrescenta o Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa contra o Cancro (LPCC), organizadora do encontro que se realiza na sexta-feira e no sábado na Fundação Cupertino de Miranda, no Porto.

O presidente do Núcleo do Norte da LPCC, Vítor Veloso, defende, por isso, que é “fundamental que o Estado não esqueça que a prevenção é uma arma vital ao nível da implementação de medidas que promovam a diminuição da incidência e da mortalidade nos doentes com cancro”.

“Esta instituição será sempre uma acérrima defensora do acesso a melhores cuidados de saúde do doente oncológico. Um retrocesso neste campo pode fazer a diferença entre a vida e a morte, a cura ou uma sobrevivência penosa e sem qualidade", considerou o oncologista.

Numa altura em que foram anunciados cortes na saúde, a Liga Portuguesa Contra o Cancro – Núcleo Regional do Norte pretende com este congresso alertar para a necessidade urgente da intervenção política de modo a assegurar os direitos dos doentes (acesso aos rastreios, um melhor tratamento e acessibilidade).

“Há que fazer contenção em muitas situações, mas é impensável que em relação aos doentes, e nomeadamente aos doentes oncológicos, sejam tomadas medidas que diminuam a capacidade de intervenção dos profissionais de saúde em todas as situações. Há que assumir uma atitude clara por parte da classe política e sobretudo pelo Governo”, sustentou Vítor Veloso.

De acordo com os dados disponibilizados à Lusa pela organização do congresso, o cancro representa neste momento não só o principal problema de saúde pública, como é a patologia que mais impacto económico causa na sociedade.

No entanto, refere, “Portugal gasta muito menos com um doente oncológico do que a média da União Europeia e, comparativamente, apenas um terço da despesa feita nos EUA”.

Um estudo divulgado em 2009 indicava que a verba aplicada em Portugal na oncologia foi de 565 milhões de euros, o que representava 3,9 por cento do total do orçamento para a saúde (no Reino Unido é de 10 por cento). A despesa com doenças cardiovasculares corresponde ao dobro (8,15 por cento).

De acordo com as contas da LPCC/Norte, “em Portugal são gastos per capita 52 euros no cancro e 111 euros nas doenças do coração”.

O I Congresso Nacional de Prevenção Oncológica e dos Direitos dos Doentes tem como lema “Prevenção, Inovação Científica e Humanização”.

"Este congresso pretende ser provocativo, mas sempre com intuitos construtivos e dentro de uma discussão clara e aberta”, frisou Vítor Veloso.

O objetivo é “ajudar a criar uma cultura de Prevenção e de Educação para a Saúde, que reforce os números que dão conta que mais de 30 por cento das mortes por cancro podem ser evitadas, se existir uma atitude preventiva assertiva e ajustada”.

Dados estatísticos da Organização Mundial de Saúde apontam para a existência de 7.6 milhões de mortes anuais (dados de 2008), um número que se estima chegar aos 11 milhões em 2030.

06 de outubro de 2011

Fonte: Lusa