Júlia Vinhas, psicóloga clínica e coordenadora da unidade de Setúbal do CADIn, explicou à agência Lusa que, além do apoio prestado com consultas médicas e processos de avaliação, o Centro tem também, como objetivo, a formação e a ação que se vai realizar na Universidade do Algarve, que inclui ‘workshops’ sobre temas como a aprendizagem específica ou conferências, que abordam perturbações do neurodesenvolvimento.

“Sentimos necessidade, tendo o CAdin como uma das áreas de missão e de foco a formação, de ir ao Algarve passar um bocadinho dos nossos conhecimentos e da nossa experiência clínica ao nível das áreas do neurodesenvolvimento”, afirmou a coordenadora da unidade de Setúbal, sublinhando que costuma também atender pessoas do Algarve, que procuram o Centro.

A mesma fonte precisou que, na sexta-feira, vão ser realizados “dois ‘workshops’ sobre legislação especial e sobre necessidade de aprendizagem específica, relacionadas com intervenção em contexto escolar”, enquanto o sábado é destinado “às conferências”, com assistência composta por “profissionais de saúde, técnicos, psicólogos, educadores ou professores”.

“Nelas iremos falar das várias temáticas relacionadas com as perturbações de neurodesenvolvimento, e teremos oportunidade de falar de questões do sono, da linguagem, do insucesso escolar, [sobre] a atenção, a dificuldade no cumprimento de regras, novas tecnologias, ‘cyberbullying’, até chegarmos à idade adulta e à integração destes jovens, com perturbações, ao nível do neurodesenvolvimento”, precisou Júlia Vinhas.

A psicóloga clínica disse que, nos cerca de 13 anos de atividade do CADIn, que pretende ser “uma referência” na abordagem e tratamento das perturbações do neurodesenvolvimento, foram já atendidos “22 mil utentes, desde a infância à idade adulta”.

Quando as “crianças chegam a CADIn”, como afirma Júlia Vinhas, “é porque os pais observaram algum comportamento que consideram não ser normativo ou lhes causa algum tipo de preocupação, ou porque vêm indicados por professores”, e é necessário “ser observado pelo médico e, posteriormente, por um técnico mais focado em determinada idade ou competência comportamental, para se fazer uma avaliação”.

Entre esses comportamentos estão, segundo a especialista, “problemas do sono, insucesso escolar em que já foram tentadas várias estratégias e nada resulta, incumprimento de regras ou estar sempre agarrado à tecnologia”.

“Estes são os sintomas que podem ser sinónimo de um leque muito diverso de perturbações, ou não”, alertou, insistindo na necessidade de a comunidade estar preparada para avaliar e responder a estes problemas.

“Existem cada vez mais diagnósticos, porque cada vez há mais conhecimento e instrumentos de avaliação e, por isso, conseguimos maior número de diagnósticos. Quando as pessoas nos procuram existem queixas e sintomas, muitos deles são sempre relacionados com questões comportamentais, mas não é regra geral, porque nós também recebemos crianças com perturbações de espetros do autismo, com perturbações específicas da comunicação, défice de atenção ou hiperatividade”, matizou ainda a coordenadora do CADIn.