As conclusões do "New England Journal of Medicine" sugerem que as autoridades globais de saúde reconsiderem o conselho de longa data de que os bebés devem evitar certos alimentos, isto quando se verifica, nos últimos anos, um aumento da alergia a amendoins potencialmente fatal entre os jovens.

"A introdução precoce de amendoins nas dietas de crianças com alto risco de desenvolver alergia a amendoins reduz significativamente o risco de alergia a amendoins até aos seis anos de idade, mesmo que elas parem de comer amendoins por volta da idade de cinco anos", diz o estudo, liderado pelo King's College de Londres.

Os resultados complementam os resultados inovadores anunciados no ano passado a partir de um estudo conhecido como "Learning Early About Peanut Allergy (LEAP)", que envolveu mais de 600 crianças. Constatou-se que os bebés de alto risco que comiam amendoins por volta dos 11 meses experimentaram uma taxa substancialmente mais baixa de alergia a este alimento por volta dos cinco anos do que as crianças que os evitaram.

O estudo mais recente, chamado LEAP-On, inclui provas recolhidas após acompanhar 550 crianças com idades entre 5 e 6 anos, algumas das quais deixaram de comer amendoins - enquanto outras continuaram. A interrupção por um ano não resultou em "nenhum aumento estatisticamente significativo da alergia", disse o estudo, notando que três jovens que comiam amendoins e três que evitaram desenvolveram alergias entre os cinco e seis anos.

"No geral, o estudo viu uma redução relativa de 74 por cento na prevalência de alergia a amendoins naqueles que consumiam amendoins em comparação com aqueles que evitaram".

Alergia mais prevalecente em que não ingeriu amendoins

A alergia a amendoins foi muito mais comum (18,6 por cento) em crianças que evitaram amendoins durante a avaliação do que naquelas que os comiam (4,8 por cento).

O estudo LEAP levou a pedidos de mudança nas recomendações de alimentação para bebés. Até agora as autoridades pediram aos pais para evitar dar este tipo dealimentos a bebés e crianças pequenas - particularmente aquelas com outras condições, como eczema - até à idade de dois ou três anos.

Uma em cada 13 crianças nos Estados Unidos (oito por cento) sofre de uma alergia alimentar, e os Centros dos Estados Unidos para Controlo e Prevenção de Doenças disseram que as alergias alimentares em crianças aumentaram cerca de 50 por cento de 1997 a 2011, por razões que não são claras.

A alergia a amendoins afeta uma em cada 50 crianças na Grã-Bretanha, e é uma preocupação crescente em partes da África e da Ásia também. "No passado, havia a recomendação de que evitar qualquer ingestão era melhor, mas agora ficou claro que esse paradigma tem de mudar", disse Punita Ponda, assistente-chefe da Divisão de Alergia e Imunologia no instituto Northwell de Saúde em Great Neck, Nova Iorque.

"Estamos ainda a começar a ter relatórios de estudos como este, que dão aos alergologistas alguns dados cientificamente fundamentados para usar quando fazem recomendações", acrescentou Ponda, que não esteve envolvido no estudo.

Os especialistas concordam que muitas perguntas ainda precisam de ser respondidas antes que os pais possam saber como ajustar os hábitos alimentares dos filhos para ficarem alinhados com os dados científicos mais recentes, e que o conselho de um médico deve ser procurado nessa fase.

"Por exemplo, quais são as quantidades corretas de alimentos necessários para induzir tolerância, e qual é a idade em que é tarde demais para induzir tolerância?" disse Barry Kay, professor emérito de alergia e imunologia clínica no Imperial College London. "Portanto, não tentem isto em casa", concluiu.