Os médicos vão justificar a prescrição de alguns antibióticos, uma medida que visa combater a resistência dos agentes infecciosos a estes fármacos que é “preocupante” em áreas como a luta contra a tuberculose, disse o diretor-geral da Saúde.

“Estamos na iminência de poder não ter antibióticos ativos contra as bactérias e o exemplo mais preocupante é o da tuberculose”, afirmou Francisco George à margem de um encontro para jornalistas sobre “a Infeção Associada aos Cuidados de Saúde” (IACS) em Portugal.

A monitorização da dispensa de antibióticos já está em vigor em alguns hospitais, como o Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, e deverá ser expandido para todas as instituições hospitalares do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Na prática, quando um antibiótico for receitado para uma determinada situação, em que não é considerado o mais adequado, ou durante demasiado tempo, as comissões de controlo de infeção questionam esta prescrição.

Francisco George transmitiu a sua preocupação com a questão das resistências aos antibióticos, classificando-a mesmo como “um dos grandes problemas em Portugal”.

O diretor-geral da Saúde aponta o dedo às administrações hospitalares que “não têm dado a devida importância à dimensão das infeções e das resistências”.

“As comissões de infeção são pouco apoiadas pelas próprias administrações”, disse, advertindo: “Isto não pode ser”.

A mudança passa, precisamente, pela “monitorização da dispensa de antibióticos nas farmácias hospitalares”.

“Os médicos vão ter de dar explicações sobre esta prescrição”, adiantou.

A preocupação de Francisco George estendeu-se ainda a resistências que já são sentidas ao nível dos antivirais e de alguns protozoários.

No encontro com os jornalistas, a consultora da Direção Geral da Saúde Elaine Pina lembrou alguns dados internacionais, nomeadamente que, “em cada momento, mais de 1,4 milhões de doentes em todo o mundo adquirem uma infeção hospitalar”.

A especialista reconheceu que algumas infeções em meio hospitalar dificilmente deixarão de existir, mesmo com a adoção de medidas de controlo.

Mas existem outras, como a infeção urinária, que podem e já diminuíram em Portugal.

Em 1988, lembrou, a infeção urinária, em parte devido à utilização de algálias, era a principal infeção em meio hospitalar em Portugal. Hoje em dia, são as do foro respiratório.

No encontro, o diretor do serviço de urgência geral do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, reconheceu que, em alguns casos, a algaliação é usada mais do que o devido, o que em parte se deve à comodidade dos profissionais de saúde.

“A diminuição desta algaliação pode conduzir à redução do risco de infeção urinária”, disse.

Sem revelar dados sobre o quanto custa a Portugal as infecções associadas aos cuidados de saúde, Elaine Pina disse que, a nível global, estas representam 16 milhões de dias extra de internamento por ano.

14 de novembro de 2012

@Lusa