A lipoproteína de alta densidade (HDL) – o colesterol bom que elimina os depósitos de gordura no interior das artérias – quando existe em baixas quantidades no sangue aumenta o risco de doença cardiovascular, porque propicia a acumulação de placas de gordura nas artérias.

“Porém, o aumento do HDL através de fármacos não produz nenhum efeito funcional no corpo humano”, explica Alberto Cordero, da Sociedade Espanhola de Cardiologia e médico no Hospital Universitário de San Juan, em Alicante.

Durante o 36.º Congresso da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, que se realiza em Albufeira, o médico acrescenta que "perceber o papel da HDL no sangue é um dos grandes desafios no futuro", já que "apenas um HDL naturalmente alto tem efeitos protetores" para a saúde.

Dois grandes estudos estão já em marcha, com resultados esperados em 2018. “Aguarda-se que tragam novas informações sobre a função do HDL e a possibilidade de novas terapêuticas que incidam sobre a lipoproteína de alta densidade”, avança.

O colesterol bom, que age eliminando os depósitos de gordura no interior das artérias, em concentrações inferiores a 60mg/dl no sangue é perigoso. “Um HDL baixo é um mau marcador, um sinal de risco, muitas vezes explicado pela obesidade e diabetes”, diz o médico espanhol.

O que causa o colesterol HDL baixo é, principalmente, a alimentação rica em gorduras, excesso de peso, falta de exercício físico, tabaco e diabetes.

Episódio de doença coronária implica baixar o mau colesterol

Ao contrário do HDL, a utilização de fármacos, como as estatinas, no tratamento do colesterol mau – a lipoproteína de baixa densidade (LDL) – é eficaz e cientificamente comprovada.

Contudo, cerca de 2% dos casos de reincidência de doença coronária acontecem em doentes com um colesterol baixo.

De acordo com Almudena Castro Conde, médica cardiologista no Hospital La Paz, em Madrid, nesses doentes o tratamento deve plasmar-se por baixar ainda mais o colesterol “mesmo que este esteja em níveis normais”.

Ou seja: mesmo que a lipoproteína de baixa densidade presente no sangue de um indivíduo com doença coronária esteja em níveis baixos – ainda que o conceito “quanto mais baixo melhor” seja consensual na comunidade científica e clínica – esse mesmo individuo deve procurar baixar ainda mais o nível de colesterol mau, para evitar um novo evento cardiovascular.

Carlos Rabaçal, diretor do serviço de cardiologia no Hospital de Vila Franca de Xira, adiciona que “mesmo em doentes com doses altas de fármacos contra o LDL, pode suceder-se um episódio de doença coronária”.

Segundo este especialista, “são necessárias grandes mudanças no estilo de vida” dos doentes, para que os efeitos da medicação contra o colesterol alto tenha os efeitos desejados.

O SAPO esteve no 36.º Congresso Português de Cardiologia, em Albufeira, a convite da Sociedade Portuguesa de Cardiologia.