Os investigadores Edgar Gomes, do Instituto de Medicina Molecular (iMM Lisboa), António Jacinto, do Centro de Estudos de Doenças Crónicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (CEDOC-NMS|FCM) e Rui Costa, da Fundação Champalimaud (FC), receberam, respetivamente, 150 mil euros, valor da bolsa de Investigação europeia Proof of Concept, concedida pela European Research Council (ERC).

Os cientistas foram distinguidos por projetos que terão a duração de um ano e meio, sobre perturbações musculares, controlo do cérebro sobre as máquinas e a resistência celular no tratamento de doenças.

Novo sistema in vitro tridimensional

O projeto intitulado "A novel muscle disorders 3D in vitro system for drug screening and validation”, da responsabilidade do investigador Edgar Gomes, do iMM Lisboa, visa o desenvolvimento de um protótipo de um sistema in vitro tridimensional de doenças musculares para identificar e validar fármacos.

Muitas doenças musculares levam à imobilização parcial ou total dos doentes tendo, por isso, um grande impacto socioeconómico. Atualmente, não existem bons sistemas para testar fármacos que possam melhorar ou corrigir os sintomas destas doenças. No laboratório de Edgar Gomes, os investigadores desenvolvem um sistema celular tridimensional que mimetiza algumas doenças musculares e identificam um novo processo que ocorre nessas doenças.

Com este projeto, os cientistas pretendem desenvolver um protótipo deste sistema que possa ser usado por outros laboratórios, a nível mundial, na identificação de novos fármacos eficazes no tratamento e cura de múltiplas doenças musculares.

Edgar Gomes esclarece que “no final deste projeto esperamos ter um protótipo funcional que será a base do produto que iremos comercializar” e ainda que “o financiamento irá também ser usado para realizamos pesquisas de mercado e identificar potenciais compradores para os nossos produtos”.

Controlo do cérebro sobre as máquinas

Conseguir controlar uma máquina com a atividade do cérebro já não é mera ficção científica, aliás, as chamadas Interfaces Cérebro-Máquina são hoje uma promessa no campo da neuro-reabilitação e a sua aplicação em próteses e em simples equipamentos representa um mercado em potencial crescimento.

O desafio agora é trazer esta tecnologia para simples tarefas do dia a dia. É exatamente este o foco de estudo do grupo liderado por Rui Costa, investigador principal da FC.

O projeto “Brain Control” tem por base a criação do protótipo de uma Interface Cérebro-Máquina com características únicas. “A nossa proposta é desenvolver uma interface Cérebro-Máquina portátil, de fácil utilização para o utilizador e adaptável a diferentes equipamentos. Queremos desenvolver algo que tenha um impacto na sociedade, que ofereça uma melhoria na vida das pessoas, seja na área da saúde, do entretenimento ou outras”, explica Rui Costa.

Com este financiamento, o grupo irá desenvolver novos algoritmos e hardware para que a interface Cérebro-Máquina possa tornar-se num produto que ofereça vantagens para doentes e para a população em geral.

Resistência celular no tratamento de doenças

O grupo de investigação liderado por António Jacinto, investigador principal do Grupo de Morfogénese e Regeneração de Tecidos do CEDOC-NMS|FCM, foca-se no estudo da regeneração de tecidos, mais concretamente nos mecanismos moleculares que estão envolvidos nesta reparação. No âmbito desta investigação, este grupo identificou uma classe de moléculas essencial no processo de cicatrização, denominadas junções de oclusão.

Com esta descoberta nasceu a possibilidade de se intervir nos processos de reparação do epitélio, promovendo a cicatrização dos mesmos. Em parceria com a empresa Thelial, o grupo de António Jacinto propôs-se a testar fármacos que a Thelial tinha já identificado como tendo potencial regenerador em lesões ligadas às junções de oclusão, para então manipular a reparação das lesões.

O Conselho Europeu de Investigação apostou neste projeto e financiou esta parceria com cerca de 150 mil euros com o objetivo de explorar a potencialidade terapêutica destes fármacos nos processos de cicatrização.

Para o efeito, com este investimento, o António Jacinto e a Thelial vão testar o efeito dos fármacos no caso concreto do epitélio do intestino cuja integridade quando comprometida pode levar a patologias como o Leaky Gut associada a vários processos inflamatórios. Com a aplicação terapêutica destes fármacos existe a possibilidade de se repararem as lesões potenciando a cura ou a prevenção destas doenças.

Caso se revele um efeito positivo nos testes efetuados primeiramente em modelos celulares e animais, esta descoberta será patenteada e seguirá para ensaios clínicos em humanos.

O “Proof of Concept” é sistema de financiamento aberto a investigadores que já receberem bolsas ERC, como foi o caso de Edgar Gomes em 2014, Rui Costa em 2009 e 2013 e António Jacinto em 2008. Este financiamento tem como finalidade ajudar os cientistas a explorar o potencial de inovação das suas pesquisas ou apoiar a comercialização dos resultados da sua investigação.