"Proponho desenvolver uma terapia que, por um lado, seja mais inclusiva, que abranja um maior número de pacientes, e por outro lado, seja mais segura, não ofereça tantos efeitos secundários que possam colocar em risco o doente", explicou à agência Lusa Raquel Ferreira.

A trabalhar no Centro de Investigação em Ciências da Saúde (CICS), da Universidade da Beira Interior, Raquel Ferreira foi uma das três selecionadas na 10.ª edição das "Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência", que pretende incentivar jovens investigadoras, a trabalhar em Portugal, até aos 35 anos, a prosseguir estudos em ciências da saúde e ambiente, prémios que vão hoje ser entregues, em Lisboa.

Vânia Calisto é outra das premiadas e tenta encontrar um material absorvente para remover os resíduos de medicamentos psiquiátricos das águas nas estações de tratamento (ETAR), assim como Sónia Melo, que procura uma forma de fazer "biópsias líquidas", em casos de cancro, através de uma análise ao sangue, um método menos evasivo.

Raquel Ferreira, do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular, Universidade do Porto, faz uma abordagem indireta e pretende "reforçar a vasculatura e assim potenciar a recuperação e a sobrevivência dos neurónios", através da administração de células de pacientes tratadas com nanopartículas contendo ácido retinóico.

A cientista salientou que "estas são células especializadas que, quando acontece um AVC, migram até ao cérebro e tentam recuperar a vasculatura mas, infelizmente, estes processos não são totalmente eficazes". Por isso, vai tirar partido de um processo que acontece naturalmente e melhorá-lo.

O projeto de Sónia Melo tem como objetivo "conseguir, através da extração de vesículas que circulam nos pacientes, os exossomas, fazer uma biopsia líquida", ou seja, sem ter de ir evasivamente ao tumor primário, pretende-se olhar para as células e para as mutações do tumor, o que pode "ajudar em tratamentos mais dirigidos ou esclarecer sobre resistências a certas terapias".

Trata-se de tentar desenvolver uma forma de diagnóstico precoce em doenças oncológicas e de monitorização através de uma análise ao sangue.

A investigadora do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, da Universidade de Aveiro, Vânia Calisto, pretende encontrar formas de remover fármacos de águas contaminadas que podem afetar os ecossistemas e mesmo o ser humano, já que as ETAR não estão preparadas para tratar este novo tipo de poluentes.

"As metodologias que existem, mais avançadas, são geralmente demasiado caras para ser aplicadas em larga escala e foi neste sentido que me propus desenvolver adsorventes alternativos, produzidos a partir de resíduos industriais que tenham baixo valor económico e aliem ao mesmo tempo elevada eficácia na remoção dos fármacos e baixo custo de produção e aplicação", explicou Vânia Calisto.

"Estamos a falar de um carvão que seria capaz de removar os fármacos da água", resumiu a cientista.

A diretora geral da L'Oreal Portugal, Inês Caldeira, disse à agência Lusa que "as Medalhas de Honra são um incentivo financeiro que permite a estas jovens prosseguir os seus projectos com mais autonomia, em especial num contexto em que o financiamento é escasso".

Mas, a distinção é também "uma motivação que as faz acreditar em si mesmas e nas suas capacidades para ultrapassar barreiras do conhecimento", acrescentou.

Portugal é um dos países em que as mulheres estão mais representadas na ciência (segundo estatísticas da União Europa, é o 4.º país com mais mulheres dedicadas à ciência, com 46%), mas "continuam sub-representadas, não só no que toca à investigação, mas especialmente nos cargos de decisão na área", refere a L'Oreal.