A portuguesa Paula Salgado é um dos elementos da equipa londrina que publicou na terça-feira os resultados de uma investigação que permitirá atacar eficazmente as doenças provocadas por um fungo, quarta causa de infeções hospitalares.

A publicação, feita em coautoria com outros investigadores na importante “Proceedings of the National Academy of Science”, revela os resultados da pesquisa que permitiu perceber, pela primeira vez, como um fungo patogénico consegue reconhecer e ligar-se a tecidos humanos e dessa forma causar infeções.

Embora em pessoas saudáveis essas infeções se manifestem essencialmente como irritações vaginais ou orais, em doentes com o sistema imunitário debilitado, nomeadamente devido a quimioterapia, transplantes ou HIV, o fungo pode circular pelo sangue e atacar vários órgãos.

Nestes casos mais graves, a taxa de mortalidade pode chegar aos 50 por cento, uma vez que muitos dos medicamentos utilizados hoje em dia não conseguem erradicar completamente o fungo.

Em declarações à Agência Lusa, Paula Salgado salientou que o trabalho de investigação feito ao longo dos últimos três anos será “determinante para se poderem desenhar os fármacos mais eficazes” para combater este tipo de infeções, as quartas de maior incidência em meio hospitalar, muitas vezes através de superfícies de plásticas implantadas no corpo, como cateteres ou aplicações protéticas.

O trabalho da equipa do Imperial College de Londres, de que Paula Salgado é uma das principais investigadoras, focou-se numa proteína que fica à superfície do fungo Candida albicans e que lhe permite reconhecer e ligar-se a proteínas humanas, contribuindo para a invasão dos tecidos.

É sobre este mecanismo que novos fármacos poderão agora atuar, estando para já os investigadores a testar baterias de compostos moleculares que possam interferir com essa proteína.

“O mais natural é que as empresas farmacêuticas em seguida peguem no nosso trabalho e desenvolvam medicamentos apropriados”, acrescentou Paula Salgado.

Para a investigadora, “a maior parte das mulheres saudáveis têm infeções moderadas provocadas por este tipo de fungo alguma vez nas suas vidas, mas o que é menos conhecido é que estes mesmo fungos podem ser letais, e uma enorme preocupação para doentes hospitalares vulneráveis”.

Já existem tratamentos capazes de combater este tipo de infeções e eliminá-las dos instrumentos clínicos, mas os microrganismos estão constantemente a metamorfosear-se e a tornar-se resistente aos medicamentos. Estudos como os realizados por Paula Salgado são importantíssimos porque permitem agir sobre os seus mecanismos essenciais.

Paula Salgado está desde 2001 em Inglaterra, para onde foi obter o doutoramento em Oxford, de onde transitou para o University College de Londres. Desde 2007, que é investigadora no Imperial College de Londres.

07 de setembro de 2011

Fonte: Lusa