21 de maio de 2013 - 14h28
 Cerca de 160 mil portugueses devem sofrer de demência, que afeta sobretudo pessoas a partir dos 60 anos, sendo a doença de Alzheimer a mais frequente, segundo estimativas hoje apresentadas pelo coordenador do Programa Nacional de Saúde Mental.
No final de uma reunião em Lisboa na qual se debateu a criação de um plano nacional para os problemas demenciais, Álvaro de Carvalho indicou à agência Lusa que em Portugal não há dados epidemiológicos sobre demências.
As estimativas de que haverá 160 mil portugueses com demência é feita com base em dados internacionais, nomeadamente a partir de países europeus que já estudaram o problema e já criaram planos de intervenção.
As demências afetam maioritariamente pessoas a partir dos 65 anos, mas calcula-se que entre mil a dois mil portugueses com menos de 60 anos já sofram do problema.
Internacionalmente, aponta-se que a prevalência das demências seja de cinco a 7% da população maior de 65 anos, percentagem que tende a duplicar a cada intervalo de cinco anos. Assim, mais de 10% da população entre os 70 e os 75 anos terá problemas demenciais.
Sublinhando que ainda não é possível tratar as demências, como o Alzheimer, através de medicamentos, o psiquiatra Álvaro de Carvalho sublinha a necessidade de atrasar a sua evolução e apoiar as famílias que cuidam destes doentes, aumentando a sua qualidade de vida.
Contudo, primeiro é preciso conhecer a realidade portuguesa, defenderam os especialistas hoje reunidos em Lisboa, que vão avançar com um estudo de caraterização das necessidades das pessoas com demência no país.
Estudo para criar plano de atuação
Esta investigação, cujo orçamento ainda aguarda por autorização do Ministério das Finanças, deverá custar cerca de 80 mil euros e será realizada pela Direção-Geral da Saúde e pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar.
A avaliação vai começar por caraterizar as necessidades das pessoas com demências na zona Norte do país, mas Álvaro de Carvalho diz que, caso haja financiamento, pretende-se que o estudo seja estendido a todo o território continental.
A par deste estudo, os peritos querem criar um plano nacional para as demências, lembrando que são um problema grave em termos de saúde pública e com tendência a piorar em Portugal, dado o envelhecimento da população.
O coordenador científico da reunião que decorreu em Lisboa, o francês Joël Ménard, indicou à Lusa que a maioria dos países europeus já tem um plano para a doença de Alzheimer, pelo menos, sublinhando a necessidade de Portugal adotar um.
“Mesmo que os problemas sejam comuns aos vários países, as soluções não o são. Cada país deve ter o seu”, defendeu.
Ménard, que é presidente do Conselho Científico Internacional da Fundação para a Doença de Alzheimer, considera que os cuidados primários (centros de saúde) são um elemento fundamental para a identificação dos casos de demência, que devem tentar ser detetados o mais precocemente possível.
Também Álvaro de Carvalho reconhece a importância dos médicos de família para sinalizar as pessoas em risco e frisa a necessidade de os profissionais de saúde e outros que lidam com os idosos atuarem na estimulação cognitiva dos doentes.
“Sabe-se que a estimulação cognitiva, fazendo o cérebro trabalhar e desenvolver, atrasa o aparecimento de problemas demenciais. Há técnicas para aplicar esta estimulação em centros de dia ou lares”, adiantou.
As conclusões da reunião de peritos que decorreu segunda-feira e hoje em Lisboa deverão ser compiladas e enviadas até finais de junho ao Ministério da Saúde.
Para Álvaro de Carvalho, este encontro foi um primeiro passo dado pela Direção-Geral da Saúde (DGS) para estruturar o plano nacional de intervenção na área das demências, integrando vários peritos: psiquiatras, neurologistas, médicos de família, investigadores, autarquias e Segurança Social.
O psiquiatra lamentou ainda que a indiferença que se tem registado em Portugal do ponto de vista político em relação às demências.
Lusa