20 de maio de 2013 - 15h49
O recrutamento de doentes é um dos problemas com que se deparam os centros clínicos que realizam ensaios clínicos e uma das razões porque Portugal está “na cauda da Europa”, nesta matéria, alertaram hoje especialistas.
No Dia Internacional do Ensaio Clínico, que se assinala hoje, o Centro de Investigação Clínica do Centro Académico de Lisboa (CIC-CAML) promoveu uma sessão de esclarecimento sobre o valor estratégico da participação em ensaios clínicos em Portugal.
Ricardo Fernandes, coordenador do CIC-CAML, alertou para os “tempos difíceis” que se vivem nesta área, principalmente com a transferência de ensaios clínicos para países da Europa de Leste ou asiáticos.
Se, por um lado, a Europa assiste à diminuição do número destes testes, em Portugal assiste-se a uma dificuldade no recrutamento de doentes.
Este pediatra ilustrou a sua ideia com dados fornecidos pela indústria farmacêutica – o principal promotor de ensaios em Portugal – os quais indicam que, em 2012, um terço dos doentes planeados não chegou a ser incluído nestes testes.
A não concretização da participação destes doentes traduziu-se na perda de um potencial de investimento na ordem dos 14 milhões de euros, especificou.
O diretor do CIC-CAML, Joaquim Ferreira, especificou que uma das várias razões na origem desta dificuldade em recrutar participantes para os ensaios clínicos reside na falta de tempo dos médicos que os realizam, em paralelo com a sua atividade.
“Não é dada relevância para a realização destes testes e, quando não há ganho – científico ou económico –, os profissionais acabam por ficar desmotivados”, adiantou.
Este clínico defendeu ainda uma maior divulgação dos sítios e os tipos de ensaios clínicos que decorrem, de forma a permitir aos doentes acompanharem a investigação.
Joaquim Ferreira não tem dúvida de que “Portugal pode fazer milhares de ensaios clínicos”, e manifestou alguma esperança nos resultados que recentes alterações legislativas terão nesta área.
Susana Gonçalves, responsável pela área dos ensaios clínicos da empresa Amgen, que trabalha em biotecnologia, referiu que esses efeitos positivos já se fazem sentir e que hoje em dia os hospitais são muito mais rápidos a aprovar os contratos.
Ainda assim, defendeu, “Portugal está na cauda da Europa” e a diminuição dos ensaios clínicos no continente europeu “não justifica tudo”, uma vez que há países – como a Espanha ou a Bélgica – em que estes testes continuam a crescer e são viabilizados de forma célere.
Segundo dados do Infarmed, em 2011 foram submetidos 88 pedidos de autorização de ensaio clínico, dos quais 87 foram autorizados.
A mesma fonte revela que 22 entidades acolheram ensaios clínicos no mesmo ano, sendo as áreas de oncologia, sistema nervoso central, infecciologia e cardiologia aquelas em que mais ensaios se realizam.
Segundo Ricardo Fernandes, Portugal precisa de ter cinco vezes mais investimento na investigação para atingir os níveis da média europeia, que se situam nos 500 milhões de euros por ano.
Lusa