A correta posição do núcleo das células é decisiva para o funcionamento do músculo e a sua alteração afeta o movimento, concluiu uma investigação que poderá ser o primeiro passo para o desenvolvimento de tratamentos para doenças musculares.

"Este trabalho demonstra, pela primeira vez, que o posicionamento do núcleo no músculo é importante para que funcione bem", explicou hoje à agência Lusa Edgar Gomes, cientista do Instituto de Miologia (estudo dos músculos), em Paris.

O resultado desta investigação "poderá ser muito importante para o desenvolvimento de futuras terapias de tratamento de doenças musculares e para conhecermos mais [acerca da forma] como as células colocam os seus núcleos no sítio" correto, avançou o especialista.

Não é só nos músculos que o posicionamento do núcleo é importante e nalgumas doenças neurológicas o posicionamento do núcleo nos neurónios é relevante para a função do cérebro, avançou ainda o cientista.

Por isso, as conclusões desta investigação podem também contribuir para o desenvolvimento de terapias em outras áreas.

Publicado na revista Nature, o trabalho foi desenvolvido por um grupo da Universidade Pierre e Marie Curie, de Paris, liderado pelo cientista Edgar Gomes, e outro do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center (centro que estuda o cancro), de Nova Iorque, coordenado por Mary Baylies.

Edgar Gomes contou que estava a estudar o posicionamento do núcleo dentro das células e começou a trabalhar células do músculo.

Em pacientes com diferentes doenças musculares e durante a regeneração dos músculos, "os núcleos já não estão na periferia da célula, mas sim numa zona mais central, interior, e achei interessante tentar perceber o que se estava a passar: será que é uma causa ou uma consequência da doença?", relatou.

Há três anos encontrou outro grupo interessado na mesma questão e decidiram trabalhar em conjunto: uns em células de ratinho e outros em mosca do vinagre.

"Encontramos dois genes, duas proteínas que são importantes para esse posicionamento do núcleo. Na mosca do vinagre, quando uma das proteínas não está presente, as larvas têm problemas em andar, mas quando corrigimos este gene e corrigimos o posicionamento do núcleo andam bem", resumiu Edgar Gomes.

Assim, este estudo sugere que talvez as proteínas mutadas possam interferir com o posicionamento do núcleo observado no músculo desses pacientes e a "doença ser causada porque os núcleos não estão no sítio certo do músculo", resumiu.

Os especialistas estão agora a testar a correção do posicionamento do núcleo com as novas proteínas descobertas nas diferentes doenças nos ratinhos para ver se conseguem curá-los.

23 de março de 2012

@Lusa