27 de maio de 2014 - 14h11
Os casos de exaustão entre os profissionais de saúde estão a crescer com a crise, à medida que aumentam os pedidos de ajuda das pessoas, alertou hoje o delegado de saúde regional de Lisboa e Vale do Tejo.
António Tavares disse num encontro da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública que as situações de stress ocupacional são já uma realidade verificada nos centros de saúde em Portugal.
Segundo o delegado de saúde, os profissionais de saúde, nomeadamente os médicos, estão a ser solicitados a dar respostas que outros organismos não dão.
Isso obriga os clínicos a intervir também em situações do foro social, “com empenho e sacrifício pessoal redobrado”.
“Há processos de exaustão por parte dos profissionais porque não conseguem, muitas vezes, ajudar a resolver os problemas das pessoas, porque não são apenas problemas de saúde”, explicou António Tavares.
Com a incapacidade de dar respostas a certos problemas, com o aumento do trabalho e problemas nas próprias instituições de saúde (por vezes de caráter organizacional), os profissionais, que ganham menos e trabalham mais, entram em situações de exaustão.
A partilha dos seus problemas com outros colegas é essencial para travar e ultrapassar estas situações de exaustão, acredita António Tavares, que considera que a própria tutela devia incentivar espaços de partilha.
Na região de Lisboa e Vale do Tejo, a crise fez também crescer o número de crianças com baixo peso à nascença e o número de recém-nascido pré-termo.
“Há uma dificuldade maior de aderir a programas de vigilância pré-natal e também surgem casos de deficiências ao nível da alimentação. Uma das causas é sem dúvida a crise”, indicou à Lusa, no final do encontro da Associação de Médicos de Saúde Pública.
Neste encontro, os médicos alertaram para a importância das doenças transmitidas por vetores (mosquitos), considerando-as uma preocupação para a saúde pública, como afirmou Mário Jorge Santos, presidente da Associação.

Maria João Alves, do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA), lembrou que atualmente têm aparecido doenças “do nada” em locais onde não existiam.
Estas doenças vetoriais são potenciadas pelas alterações climáticas e também, de forma acentuada, pela globalização e pelos aumentos de viagens no mundo atual, acrescentou a especialista.
Em relação ao dengue, relativamente ao qual houve um surto na ilha da Madeira em 2012, todos os anos surgem em Portugal casos importados.
Entre 2006 e 2011, 37% dos casos de dengue importados registados em Portugal tinham origem no Brasil e no ano passado quase 90% foram casos importados de Angola.
Em Portugal, desde o início do programa Rede de Vigilância de Vetores, em 2008, foram colhidos e identificados 192 mil mosquitos, segundo o relatório que contém dados até ao final de 2013.
“A atividade viral detetada nestes anos tem-se limitado a flavivírus específicos de inseto não patogénicos para o homem”, refere o relatório do INSA.
Por Lusa