“Isto começou tudo muito mal, por uma teimosia do Ministério da Saúde, que não quer fazer as coisas corretamente. Não devia ter avançado com a informatização sem ter centros especializados”, afirmou à agência Lusa o presidente da SRCOM, Carlos Cortes.

No âmbito da comemoração do Dia Mundial do Médico de Família, Carlos Cortes visitou hoje vários centros de saúde, tendo sentido da parte destes profissionais uma grande preocupação relativamente à questão dos atestados médicos para a carta de condução, uma vez que o sistema informático começou a funcionar na segunda-feira.

“É um processo bastante complexo e que coloca em cima dos médicos de família uma sobrecarga muito grande e para a qual os cuidados de saúde primários não estão preparados”, alertou, contando que os médicos lhe disseram que “este programa informático obriga a uma consulta de 30 a 45 minutos” com o utente que necessitar do atestado médico.

Segundo Carlos Cortes, “durante esse tempo os médicos de família poderiam ver três ou quatro utentes doentes, tratar problemas de saúde”.

O responsável contou que o ministério se chegou a comprometer com os médicos “a só avançar com o sistema informático em paralelo com os CAMP (Centros de Avaliação Médica e Psicológica)”, o que, afinal, não se veio a verificar. “O que constatamos, e isso já foi assumido pelo Ministério da Saúde, é que os CAMP não vão começar a funcionar agora e vão demorar mais tempo”, lamentou.

As frases mais ridículas ouvidas pelos médicos

Carlos Cortes explicou que se trata de um programa informático “muito complexo, que obriga os médicos de família a, por exemplo, na área da visão, terem comprovativos relacionados com a visão periférica, com os campos de visão”, mas que “os centros de saúde não estão equipados para dar essa resposta, nem sequer os médicos de família têm formação para o fazer”.

“Ainda não fizemos a avaliação, mas vamos fazê-la, para tentar perceber qual é o impacto que isto vai ter sobre os utentes que querem um atestado de condução. Mas desde já percebemos que isto é um enorme problema”, frisou.

No seu entender, “o problema não está em informatizar o sistema”, mas sim em o fazer “sem ter as condições necessárias para tratar destes processos”.

“É o mesmo que termos um Porsche e estarmos a conduzir numa estrada de terra batida. Se os centros de saúde não tiverem os equipamentos necessários e os especialistas diferenciados para poderem fazer esta avaliação não vale a pena estar a informatizar”, considerou.