O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) considerou hoje, em Fátima, que a lei que despenaliza a interrupção voluntária da gravidez até às dez semanas tem sido facilitada e administrada ao “Deus dará”.

“A própria lei não tem sido cumprida, tem sido facilitada, tem sido administrada um bocado ao Deus dará”, disse aos jornalistas o cardeal-patriarca, José Policarpo, quando questionado com as declarações do líder do PSD e futuro primeiro-ministro que admitiu, no decurso da campanha eleitoral, que o diploma pode “ter ido um pouco longe demais”.

Reiterando a oposição da Igreja Católica à lei, com a qual não se identifica por estar “em questão o aspeto sagrado da vida”, o responsável exemplificou que o “aconselhamento prévio da mulher que pede o aborto e que está claramente previsto na lei não tem sido feito”.

O patriarca de Lisboa apontou ainda o caso de mulheres que “fazem abortos várias vezes”, esclarecendo que, no seu entender, “na lógica da governação, não é preciso pôr em questão a lei, ou seja, dizer ‘vamos fazer outra lei para exigir que esta lei seja cumprida com o mínimo de respeito pela pessoa humana e pela vida que ela inspira’”.

O presidente da CEP garantiu que esta matéria não está no programa do episcopado português, admitindo mesmo dúvidas sobre se “há condições políticas para isso”.

José Policarpo reconheceu, contudo, dando o exemplo de outros países, que “essas leis fraturantes nunca estão definitivamente resolvidas, podem sempre retomar, vir ao de cima em circunstâncias novas”.

“Estaremos atentos se as circunstâncias surgirem, mas não nos compete a nós tomar iniciativas nesse campo”, acrescentou o cardeal-patriarca.

O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, afirmou a 26 de maio, em plena campanha eleitoral, que não vai propor um novo referendo sobre o aborto, mas admitiu que isso possa acontecer por iniciativa de cidadãos que apresentem uma petição ao Parlamento.

"O PSD não toma nenhuma iniciativa nessa matéria, não consta do nosso programa, nem eu anunciei que ia propor a realização de um referendo", declarou, sublinhando que "em democracia não há temas tabus" e "se existirem cidadãos portugueses que queiram discutir a questão do aborto ela é discutível".

Antes, em declarações à Rádio Renascença, o líder do PSD defendeu que a última lei do aborto aprovada pelo Parlamento pode “ter ido um pouco longe demais” e tem de ser reavaliada, admitindo a possibilidade de realização de um novo referendo sobre a matéria, mas apenas depois dessa avaliação.

15 de junho de 2011

Fonte: Lusa/SAPO