7 de maio de 2014 - 17h33

As maratonas e outros desportos ao ar livre estão a contribuir para o aumento de casos de cancros de pele, apesar de os portugueses estarem a ter mais cuidados de proteção à exposição solar, alertaram hoje especialistas.

Esta foi a ideia mais defendida durante uma conferência promovida hoje pela Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo (APCC) para apresentar o programa do “Dia do Euromelanoma”, que este ano se assinala a 14 de maio.

“Os números [de casos de cancros de pele] estão a aumentar, apesar de haver mais campanhas e de as pessoas se estarem a comportar melhor na exposição ao sol. Mas há os comportamentos emergentes”, disse o secretário-geral da APCC.

De uma maneira geral, as pessoas respeitam mais as horas de exposição solar, usam mais protetor e camisola, afirmou, explicando o aumento do número de casos com o trabalho ao ar livre e os desportos ao ar livre, como as maratonas.

“O sol não é só na praia, é no desporto e no trabalho”, sublinhou o responsável, apontando os resultados de inquéritos realizados em 2013, que revelaram haver muito baixa proteção ao sol entre quem pratica atividades físicas ao ar livre.

Quase a totalidade (90%) dos participantes em maratonas inquiridos tinham um curso superior e, destes, 10% assumiram treinar entre as 11:00 e as 17:00, só 7% disseram usar protetor solar durante os treinos e as corridas e apenas 18% usam sempre chapéu.

O mesmo estudo revelou ainda que 12,8% tiveram este ano queimaduras solares durante maratonas.

“Este é um grupo emergente de risco”, alertou o responsável da APCC, considerando os dados preocupantes e espantando-se com o facto de dizerem respeito a pessoas com cursos superiores e, à partida, mais informadas e esclarecidas.

O atletismo está na moda - sublinhou - e enquanto há 10 anos havia 10 mil participantes na maratona da ponte, hoje em dia são 35 mil.

O atleta Paulo Guerra, presente da conferência para dar testemunho do melanoma que teve, fruto de anos de desporto ao ar livre, lamentou que os comportamentos de risco ao ar livre não tenham sido modificados.

Nas zonas de treino, que continua a frequentar, “os atletas não
usam qualquer proteção e muitas vezes acabam por tirar a própria
camisola”.

“Devia haver mais sensibilização nas zonas de treino,
porque o atleta está mais preocupado com a sua prestação e com o treino
do que com tudo o resto, considerou, revelando ainda que nem as
federações, nem os médicos de medicina desportiva alertam para esta
questão, porque "estão mais virados para outras preocupações, outro tipo
de lesões".

Consciente desta realidade, a APCC esteve hoje de
manhã na Comissão Parlamentar de Saúde, para dar a conhecer estes
resultados e apresentar algumas recomendações, uma das quais é a criação
de um “manual de boas práticas” para o desporto ao ar livre.

No
que diz respeito às profissões desempenhadas a céu aberto, como
agricultura ou pesca, os responsáveis mostram-se preocupados com o
agravamento de comportamentos dos trabalhadores, como despir a camisola e
trabalhar em tronco nu.

Neste âmbito, sugeriram aos deputados que seja instituída a obrigação para o trabalhador e o empregador de cumprirem regras.

O
papel do professor/educador também não foi descurado, tendo sido
sugerido a criação de manuais com conteúdo programático sobre “Sol e
pele”.

Por Lusa