Em 2012, na União Europeia, pensa-se que a incidência deste tipo de cancro tenha sido de 79.331 novos casos, dos quais resultaram 78.669 mortes, realidade que faz desta patologia a quarta causa de morte por cancro.

Contrariamente à generalidade dos cancros, em que, atualmente, se confirma uma redução da mortalidade, no cancro do pâncreas tem-se verificado um incremento de 4 a 5%. Concomitantemente, projeções de mortalidade americanas revelam que, em 2030, o cancro do pâncreas será a segunda causa de morte por cancro. Em Portugal, dados do Globocan de 2012 estimam que exista uma incidência de 1000 novos casos por ano. A média de idade de aparecimento destes tumores centra-se nos 71 anos, variando a sua incidência de 1 a 10 casos por 100 000 habitantes.

A biologia destes tumores é complexa, com um microambiente que tem um papel decisivo no crescimento e resistência à terapêutica. O seu crescimento silencioso, sem sintomas identificáveis ou inespecíficos, até uma fase tardia da doença, levam a que, na altura do diagnóstico, somente 20% destes tumores sejam operáveis. O tratamento do cancro do pâncreas metastizado, com as melhores terapêuticas atuais, confere aos doentes medianas de sobrevivência de onze meses, com toxicidades que não são desprezíveis.

Fatores de risco

Os fatores de risco mais comuns são a diabetes, o tabaco, a obesidade e a pancreatite crónica. Para além destes, existem agregações familiares da doença, encontrando-se ainda identificadas síndromas genéticas associadas ao cancro do pâncreas. Não há uma estratégia estabelecida para uma possível prevenção primária. Contudo, existem fatores de risco evitáveis, nomeadamente, a adopção de um estilo de vida saudável, evitando-se o consumo de tabaco e de álcool em excesso e a obesidade, condições que poderão desempenhar um papel preventivo. Os diabéticos tipo 2, os doentes com pancreatite crónica, os com história familiar de cancro do pâncreas, os fumadores e os obesos têm um risco acrescido de desenvolver a doença.

É urgente um trabalho de divulgação da doença e dos seus possíveis sinais de alarme, junto da população em geral e dos médicos de família. A melhoria da sobrevivência está diretamente ligado ao volume de recursos dispendidos em investigação e o carcinoma do pâncreas, apesar de ser um dos tumores com mais alta mortalidade, tem um nível de investimento francamente inferior aos restantes: por exemplo, comparativamente ao cancro da mama constata-se que este investimento é 7 vezes inferior. Neste momento, na UE, existem 1070 ensaios clínicos em cancro da mama e apenas 252 referentes ao cancro do pâncreas.

Mais investimento

É necessário um investimento organizacional a nível nacional e europeu, envolvendo cuidadores, associações de doentes e outros profissionais, de modo a ser possível consciencializar/despertar o poder político e as autoridades de saúde, para a necessidade de serem definidos planos nacionais, centros de referência e a atribuição de mais verbas para investigação, não só no que se refere à investigação básica, mas também no que respeita à possibilidade de deteção precoce, viabilizando-se planos transversais aos diversos países europeus de facilitação da mobilidade e acesso dos doentes aos diferentes ensaios clínicos disponíveis, tornando-se exequível esbater as desigualdades de acesso às terapêuticas disponíveis que se verificam entre os diferentes países.

Em novembro de 2014 constitui-se uma plataforma a nível europeu, composta por médicos especialistas e clínicos gerais, académicos, doentes, jornalistas e decisores políticos atualmente designada de Pancreatic Cancer Europe, da qual o GICD (Grupo Investigação Cancro Digestivo) e a Europacolon são membros fundadores. O objetivo primordial desta plataforma substancia-se na divulgação nos diversos países europeus de factos que permitam um conhecimento mais abrangente acerca desta doença, visando proporcionar a melhoria das práticas clínicas, a elaboração de registos mais completos e a facilitação e implementação de meios que levem ao diagnóstico precoce, propondo-se ainda conseguir uma maior equidade a nível europeu no acesso às terapêuticas disponíveis.

Um artigo do médico Hélder Mansinho, diretor do Serviço de Hemato-Oncologia do Hospital Garcia de Orta, em Almada; Presidente do GICD (Grupo Investigação Cancro Digestivo)