As autoridades de saúde estão ainda a analisar 4.293 casos suspeitos, informou o Ministério da Saúde.

Cientistas no Brasil afirmam que o aumento dos casos de microcefalia – em que o bebé nasce com a cabeça com um tamanho abaixo do normal e frequentemente com o cérebro não totalmente desenvolvido – está ligado a uma explosão do vírus zika, transmitido por mosquito, com a estimativa de 1,5 milhões de pessoas infetadas.

A Organização Mundial de Saúde está a estudar a possibilidade de ligação entre os casos de microcefalia e o vírus zika, cujo surto já foi considerado uma emergência de saúde internacional.  Habitualmente, o Brasil regista 150 casos de microcefalia por ano.

Os problemas à nascença estão também associados a mães que contraíram sífilis, rubéola ou toxoplasmose durante a gravidez.

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O número confirmado de casos de microcefalia no nordeste do Brasil é atualmente de 863, mas poderá ascender a mais de 2.500, admite a Organização Mundial de Saúde (OMS) numa conferência de imprensa sobre a epidemia de Zika.

No evento, transmitido por teleconferência, o diretor do departamento de saúde materna, infantil e adolescente da OMS, Anthony Costello, explicou que os dados mais recentes sobre o Zika no Brasil, datados do final da semana passada, apontam para 6.480 casos suspeitos de bebés com microcefalia no nordeste do Brasil.

Estas suspeitas baseiam-se apenas nas medidas do perímetro cefálico dos bebés no momento do nascimento.

Destes, 2.212 casos foram investigados por pediatras e com recurso a exames cerebrais, tendo-se confirmado que 863 bebés tinham de facto microcefalia, com anomalias clínicas e registadas nos exames cerebrais. Com base nestes números, a OMS conclui que 39 por cento dos casos suspeitos se confirmaram.

"Se esta taxa se mantiver, estimamos que sejam 2.527 os casos atuais de microcefalia", explicou Costello aos jornalistas.

Na mesma conferência, o diretor da OMS para a Estratégia, Política e Informação, Chris Dye, admitiu que os casos de microcefalia na América em geral ascendam a muitos milhares.

"Já sabemos que há milhares de casos de microcefalia só numa parte do Brasil, por isso a expetativa nas Américas como um todo é de muitos mais milhares de casos", alertou o responsável, lembrando que a epidemia de Zika está a alastrar-se pelo continente.

Admitindo que não é fácil medir o número de infeções, porque não existe um instrumento de diagnóstico fiável para uma doença que em geral tem sintomas ligeiros, como é o caso do Zika, Chris Dye admitiu que o número de casos "deve ir em muitos, muitos milhões de pessoas".

A diretora-geral da OMS, Margaret Chan, alertou por seu lado que em menos de um ano o Zika "passou de uma curiosidade médica ligeira para uma doença com graves implicações para a saúde pública".

Quanto mais sabemos, piores parecem as coisas", disse a responsável, lembrando que, embora apenas o Brasil e o Panamá tenham registado casos de microcefalia, nos restantes países onde a doença já chegou ainda é cedo para as gravidezes chegarem a termo.

Margaret Chan alertou ainda que já se sabe haver transmissão sexual da doença e recomendou às pessoas que tenham viajado para países onde há Zika e aos seus parceiros sexuais que pratiquem sexo seguro para prevenir a transmissão da doença.

O vírus do Zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, provoca sintomas gripais benignos, mas está também associado a microcefalia, assim como ao síndroma de Guillain-Barré, uma doença neurológica grave.

O Brasil, o país mais afetado pelo surto de Zika, já registou mais de um milhão e meio de casos.