De acordo com o Relatório Mundial sobre Envelhecimento e Saúde, elaborado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e hoje divulgado, a suposição passa pelo facto de as pessoas mais velhas terem mais saúde dos que os respetivos pais ou avós.

"Isto somado quer dizer que «70» (anos) é o novo «60»", refere a OMS no documento, avisando, porém, que essa suposição "superficialmente positiva", carrega, porém, um "gosto amargo".

"Se, hoje, os adultos maiores de 70 anos possuem a mesma saúde que os adultos maiores de 60 anos do passado, pode concluir-se que os adultos maiores de 70 anos de hoje estão em melhor posição para se defenderem sozinhos e, portanto, há menos necessidade de ação politica para ajudá-los", argumenta a OMS.

Qualidade dos anos extra "não é clara"

Segundo o relatório, embora haja uma "forte evidência" de que a terceira idade está a viver mais tempo, principalmente em países de alto rendimento, "a qualidade desses anos extra não é clara", uma vez que os resultados de diferentes investigações são ainda "muito inconsistentes", tanto internamente, como entre Estados.

Uma análise feita pela OMS a pessoas nascidas entre 1916 e 1958 que participaram em diversos estudos sugeriu que, mesmo que a prevalência de deficiência grave - que exige ajuda de outra pessoa para realizar atividades simples, como comer e tomar banho - possa ter diminuído, "não há mudanças significativas na prevalência de deficiência menos grave".

Independentemente do cenário, a investigação considerou, em geral, apenas as perdas significativas de capacidade que ocorrem comummente durante os últimos anos de vida.

"Embora 70 não aparente ser o novo 60, não há nenhum motivo para que isso não se possa tornar uma realidade no futuro. Porém, torná-lo uma realidade exigirá muito mais ações de saúde pública concentradas no envelhecimento" para garantir essa qualidade de vida, defende a OMS.

Por outro lado, refere-se no documento, o envelhecimento da população vai aumentar menos os custos com cuidados de saúde do que o esperado, entrando aí nova suposição, ligada à ideia de que as crescentes necessidades dos idosos levarão a aumentos insustentáveis nos custos de saúde.

"Na realidade, esse cenário não está muito claro. Embora a idade avançada seja geralmente associada a um aumento nas necessidades de saúde, a associação com a utilização de cuidados de saúde e das despesas é variável", refere a OMS.

Segundo a OMS, nalguns países de rendimento alto, as despesas de saúde por pessoa caem significativamente cerca dos 75 anos de idade, ao mesmo tempo que aumentam as despesas com cuidados de longo prazo.

O crescente número de idosos permitirá que levem uma vida longa e saudável e, nesse sentido, "aliviar as pressões sobre a inflação nos gastos" com saúde.

A associação entre idade e gastos com saúde, segundo a OMS, também é fortemente influenciada pelo próprio sistema de saúde.

A OMS exemplifica com as situações na Austrália e Holanda, 10% com gastos com saúde, e Estados Unidos, 22%, ocorrem no cuidado de pessoas durante o ultimo ano de vida.

"Embora sejam necessárias mais evidências, prever custos futuros de saúde com base na estrutura etária da população é um valor questionável. Isso é reforçado por análises históricas que sugerem que o envelhecimento tem muito menos influência sobre os gastos com saúde do que diversos outros fatores", defende-se no documento.

Por exemplo, nos Estados Unidos, de 1940 a 1990, período de envelhecimento significativamente mais rápido da população já ocorrido, a terceira idade parece ter contribuído apenas com cerca de 2% dos gastos com saúde, enquanto as mudanças relacionadas a tecnologia foram responsáveis entre 38% e 65% desse crescimento.