16 de abril de 2014 - 15h33
Depois de seis meses de rouquidão, Fernando decidiu finalmente ir ao médico e o diagnóstico foi o pior, um cancro na garganta, que poderia ter sido evitado com rastreios, como aquele a que hoje se submeteram vários atores.
Foi há 11 anos que Fernando Gomes recebeu a notícia de que tinha de retirar as cordas vocais. “Os primeiros tempos foram muito difíceis e, ainda hoje, se entrar num sítio qualquer, as pessoas olham porque é uma voz estranha”, contou à agência Lusa, no Dia Mundial da Voz.
“Nunca tive uma dor, nunca tive um mal-estar, só rouquidão”, disse o doente, que hoje faz uma “vida normal”, apenas com algumas restrições: “O álcool evita-se e o tabaco acabou naquele dia”.
Fernando Gomes juntou-se a vários artistas que durante toda a manhã fizeram um rastreio da voz no Hospital Egas Moniz, promovido pelo Centro Hospitalar de Lisboa Oriental e pela Fundação GDA – Direitos dos Artistas.
Após a realização do rastreio, o ator Rui Mendes disse à Lusa que “a voz é uma das ferramentas dos atores”, que têm de ser cuidada.
“As cordas vocais são músculos que têm de ser treinados e cuidados, tal como os músculos das pernas para os corredores, e os músculos dos braços para os ginastas”, comentou.
Para manter a saúde do aparelho vocal, Rui Mendes evita comer alguns alimentos, como azeitonas, chocolates e nozes, e deixou de fumar.
“Fumei durante muitos anos e graças a uma peça de teatro que fiz tive de deixar de fumar”, contou, desabafando: “Acho que comecei a viver desde que deixei de fumar”.
A atriz Paula Marcelo continua a fumar, mas tem cuidados com a voz e faz questão de fazer o rastreio todos os anos.
“Descobri a minha patologia, por acaso, num rastreio de voz”, disse a atriz, que tem “um pequeno edema” nas cordas vocais próprio dos fumadores.
Paula Marcelo adiantou que, “tal como um músico trata do seu instrumento musical”, o ator tem também de tratar o seu instrumento, a voz.

Para isso, a atriz diz que bebe muita água e tem “alguns cuidados com a alimentação”, entre os quais não comer alimentos ácidos à noite.
Segundo o vice-presidente da Fundação GDA, os artistas estão cada vez mais alertados para a importância de cuidar da voz, que “é o seu principal instrumento de trabalho”.
“Fazer uma revisão regular para descobrir atempadamente alguma patologia é uma condição para um trabalho melhor”, sublinhou Luís Sampaio.
Esta opinião é sustentada por Clara Capucho, responsável da Unidade da Voz do Hospital Egas Moniz: “Os profissionais da voz já vão tendo essa consciência, mas ainda temos muitas pessoas que ficam roucas durante muito tempo e não dão importância”, principalmente os idosos e as pessoas com profissões em que a voz não é importante.
“A voz mudou” mas as pessoas pensam que “é assim” e quando chegam ao hospital já apresentam “neoplasias e cancros muito avançados das cordas vocais, da língua e da cavidade bocal”, lamentou a médica.
Clara Capucho salientou a importância dos rastreios para diagnosticar precocemente a patologia vocal.
“Servem para fazer um rastreio morfológico direto sobre as lesões das cordas vocais e toda a cavidade oral”, mas também diagnosticar “nos profissionais da voz pequenas lesões não cancerosas, mas que podem fazer toda a diferença na sua qualidade vocal ao longo do seu desempenho profissional”, adiantou.
Na sala de espera do hospital, os doentes foram surpreendidos com um pequeno espetáculo de Lia Altavilla e Jorge Silva, do Teatro Nacional de S. Carlos.
Os doentes foram alertados para a importância do rastreio à voz, através de panfletos distribuídos por um casal vestido à época vitoriana, que lhes dava alguns conselhos como “Vão ver a vossa voz” e “não falem com a voz grave e monocórdica”.
Lusa

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