16 de abril de 2013 - 10h19
A primeira bolsa de investigação na área do cancro da mama dada pela Associação Laço é hoje entregue a um projeto que vai estudar a relação entre os níveis elevados de colesterol e o crescimento destes tumores.
“O que propomos estudar é se o colesterol elevado em doentes com cancro da mama recruta um tipo de células derivadas da medula óssea que suprime a resposta imune da doente a esse cancro”, explicou Sérgio Dias, do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina de Lisboa, responsável do projeto vencedor da bolsa.
O investigador lembra que os níveis elevados de colesterol já estão demonstrados como fator de risco para outras doenças, como as cardiovasculares, indicando que se pretende perceber se também terão efeito no crescimento ou desenvolvimento em doentes com cancro da mama.
“Temos evidência experimental, preliminar, que, neste ambiente rico em colesterol, o cancro da mama cresce mais depressa e depois pode alastrar, formando metástases”, indicou.
Sublinhando que não está aqui em causa uma tentativa de ligar o colesterol ao surgimento do cancro, Sérgio Dias explicou que os níveis lipídicos (de gordura) podem é potenciar o tumor da mama em doentes que já o tenham e contribuir para que possa alastrar a outras zonas.
Indícios já revelados
Os investigadores conseguiram já demonstrar que os níveis de colesterol elevados recrutam um determinado tipo de células da medula óssea e que essas células vão para os tumores. A partir daqui, vão tentar perceber se o colesterol em doentes com cancro da mama recruta algum tipo de células derivadas da medula que vai diminuir a resposta da paciente ao cancro.
Além disso, internacionalmente existe já a evidência, demonstrada por vários estudos, de uma associação entre tumores maiores e mais invasivos e mulheres obesas.
Sobre as aplicações futuras destas eventuais descobertas, Sérgio Dias considera que poderão ter uma aplicação clínica muito rapidamente, uma vez que já existem medicamentos usados noutras doenças para reverter os efeitos do colesterol.
“Isto, se tudo se provar, pode ter uma aplicabilidade clínica muito mais rápida. Não estamos à procura de fármacos novos propriamente ditos, eles já existem. Usando fármacos já existentes podemos é tentar reverter o efeito sistémico do colesterol no cancro”, adiantou à Lusa o investigador.
Bolsa para dois anos
Este projeto, que venceu a primeira bolsa da Laço, num valor de 25.000 euros, deverá ter uma duração de dois anos.
Após 13 anos de trabalho na área do cancro da mama, a Associação Laço decidiu estimular a investigação científica nesta área, para identificar as causas da doença e diminuir a sua incidência, como explicou à Lusa a presidente da organização, Lynne Archibald.
De acordo com a responsável, os principais objetivos desta bolsa de investigação são “perceber a causa ou causas do cancro da mama e porque é que se ramifica para outras zonas do corpo”: “Só assim será possível encontrar medidas eficazes de prevenção primária, procurando evitar o cancro metastático”.
Em resposta escrita enviada à Lusa, Lynne Archibald contou que a associação começou no ano passado a analisar os trabalhos de investigação desenvolvidos em Portugal, tendo verificado um “avanço enorme na quantidade e qualidade do trabalho desenvolvido” no país nos últimos 10 anos, com impacto internacional.
“Desta forma, sentimos que este era o momento certo para a Associação Laço apoiar a investigação em Portugal e incentivar a ciência a fazer novas descobertas na área do cancro da mama”, acrescentou.
Lusa