"Em 2015, do Estado, ao abrigo de um contrato-programa de dois anos, deveríamos ter recebido 80 mil euros e em 2016 mais 180 mil", explicou à Lusa Filipa Palha, presidente daquela associação.

A Encontrar+se foi fundada há dez anos, "no dia em que se celebra o Dia Mundial da Saúde Mental" e, sublinhou aquela responsável, o seu maior combate continua a ser conta "o estigma que atinge esta área". "Em 2016, mais de 100 pessoas pediram-nos ajuda. Acompanhamos com regularidade 69, num serviço na maior parte das vezes gratuito, sem que o Estado comparticipe, mesmo tratando-se de uma instituição particular de solidariedade social", disse.

Segundo Filipa Palha, que é psicóloga clínica, quem "é seguido no Centro de Atendimento Integrado da Encontrar+se chegou indicado pelos hospitais e não volta a ser hospitalizado, beneficiando de um atendimento onde pode ter acompanhamento 24 horas por dia, sete dias por semana". "Em tempos como os que estamos a viver os problemas de saúde mental bem como os riscos de suicídio aumentam e o que assistimos é a um silêncio por falta de respostas por parte de quem tem o dever de nos assistir", denunciou.

E prosseguiu: "Foi feito um relatório que está na base de um plano onde é reconhecido que existem falhas na assistência a doentes e, dez anos volvidos, pouco foi aplicado". "Não há psicólogos nas escolas para atender estes fenómenos quando o problema da saúde mental começa na adolescência, em que muitos miúdos vivem contextos familiares difíceis, onde há desemprego".

Citando um "estudo epidemiológico que vai sendo conhecido às pinguinhas", a responsável da Encontrar+se afirmou que "30% da população portuguesa passa por uma experiência destas ao longo da vida". "A depressão pode provocar suicídios e para isso não há planos de emergência como foi feito para o ébola ou para a 'legionella' É isso mais importante que o sofrimento causado por uma depressão e o risco de suicídio associado?", questionou.

Parcerias com universidades dos Estados Unidos, Suíça, Brasil e Inglaterra, permitiu que a Encontrar+se "trouxesse para Portugal modelos que são considerados eficazes no tratamento de áreas específicas que podem estar afetadas pela doença mental e que ajudam as pessoas a recuperar a sua vida normal", contou.

E num ano em que a associação está a viver "à custa da angariação de fundos", a presidente da Encontrar+se lamenta que a instituição particular de solidariedade social que dirige seja "mais respeitada no estrangeiro do que no seu país", ao mesmo tempo anuncia um novo projeto. "Vamos avançar com a promoção da saúde mental no contexto laboral, tentando com isso obter mais recursos para a associação e dessa forma ficar menos dependente do que possam ser os apoios do Estado", disse.

A Lusa tentou, entretanto, obter informações da Direção-Geral de Saúde a propósito das queixas da Encontrar+se sobre as verbas do contrato programa, mas esses esclarecimentos não foram fornecidos até agora.