O presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP) sugeriu hoje “uma guerra biológica” ao mosquito da dengue, recorrendo a um bioinseticida fabricado a partir de um bacilo, que permitiria controlar o crescimento da população de mosquitos.

Em declarações à agência Lusa, e ressalvando que não conhece exatamente as medidas que estão a ser postas em prática no arquipélago da Madeira para combater o mosquito, Mário Durval defendeu o recurso ao ‘bacillus thuringiensis’ como uma solução possível.

“Pode-se fazer a ‘guerra biológica’, com bacilos ‘thuringiensis’, que se utilizam para controlar a população de mosquitos. Seria uma espécie de inseticida, que controla o crescimento dos mosquitos. Há outros inseticidas químicos, mas com outro tipo de problemas associados”, explicou o médico especialista em saúde pública.

“Utilizar esses inseticidas químicos em larga escala representa riscos ambientais, e quando se fala em ambiente fala-se em pessoas também”, acrescentou.

Reconhecendo que este é um problema de saúde pública, Mário Durval defendeu que o “grande desafio” será a atuação contra a população de mosquitos, “um problema que não se resolve nos hospitais nem nos consultórios”, mas que beneficiaria de uma maior presença de médicos especialistas em saúde pública no arquipélago.

Atualmente, disse, apenas existem dois para fazer o necessário trabalho de educação das populações.
“É preciso impedir que eles [os mosquitos] se reproduzam e ir eliminando criadores. As pessoas não ligam a isso. Não é por andarmos a matar mosquitos em casa que a situação se resolve, mas é preciso impedir que eles se criem.

Muitos dos criadores são provocados pelas pessoas. Eles procriam onde haja um bocadinho de água, como nos pratos das flores, um pneu velho com água lá dentro, uma lata velha, todas essas coisas”, especificou.
Sobre a ausência de mortalidade associada ao mosquito da dengue na Madeira até ao momento, Mário Durval afirmou que isso será reflexo da presença de um vírus não hemorrágico no território, normalmente mais letal que os vírus da dengue não hemorrágicos.

Mais de 500 casos de febre de dengue foram confirmados laboratorialmente, informou o diretor-geral da Saúde, Francisco George, na atualização semanal sobre o surto da doença que apareceu na ilha da Madeira a 3 de outubro.
Até domingo, 04 de novembro, foram notificados pela Região Autónoma da Madeira 1.148 casos de febre de dengue, dos quais confirmados laboratorialmente 517, mais 455 do que os indicados no balanço da semana passada pelo Instituto de Administração da Saúde e Assuntos Sociais da Madeira.

Dos casos de dengue notificados, 631 aguardam confirmação em laboratório e 57 são pessoas que foram hospitalizadas, sendo que três continuam internadas.
Francisco George adiantou em comunicado que, dos casos notificados entre 03 de outubro e 04 de novembro, foram diagnosticados em Portugal Continental oito (todos de evolução benigna) e 11 no estrangeiro (todos com evolução para cura).

Em ambas as situações, as pessoas, portuguesas e estrangeiras, tinham estado recentemente na Madeira.
Até domingo, não foram registados óbitos.

A febre de dengue transmite-se aos humanos pela picada do mosquito 'Aedes aegypti' infetado e apresenta como sintomas febre e dores de cabeça e nas articulações. Num estado mais avançado, a doença pode causar hemorragias e tornar-se mortal.

8 de novembro de 2012

@Lusa