Pela primeira vez desde a identificação do vírus, em 1983, os cientistas acreditam ter encontrado um estudo promissor. Batizado HVTN 702, o estudo, que começa esta quarta-feira (30/11), envolverá durante quatro anos mais de 5.400 voluntários, homens e mulheres sexualmente ativos de entre 18 e 35 anos, em 15 locais distribuídos por todo o território sul-africano.

Este ensaio clínico, um dos mais importantes já realizados, reaviva a esperança da comunidade científica.

"Se for utilizada ao mesmo tempo que os métodos de prevenção com eficácia comprovada que já usamos, uma vacina segura e eficaz pode ser o golpe de misericórdia contra o VIH", afirma Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) dos Estados Unidos. "Até mesmo uma vacina moderadamente eficaz reduziria de forma significativa o peso da doença em países e populações muito infetadas", acrescentou o responsável do NIAID, que participa no estudo.

A escolha da África do Sul para testar a vacina deve-se ao facto deste país ter um dos índices de prevalência de VIH mais altos do mundo (19,2% segundo a ONUSIDA), com sete milhões de infetados.

Em todo o mundo, dois milhões e meio de pessoas por ano são infetadas pelo vírus, que causou mais de 30 milhões de mortos desde os anos 1980, segundo um estudo publicado na conferência internacional de Durban (leste da África do Sul) em julho.

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A vacina "sul-africana", especialmente adaptada para as populações locais, é uma versão "reforçada" de uma vacina testada em 2009 na Tailândia em mais de 16.000 voluntários. Esta permitiu reduzir em 31,2% o risco de contágio, três anos e meio depois da primeira vacina. A segurança da vacina "sul-africana" foi testada com sucesso durante 18 meses em 252 voluntários.

O novo ensaio procura ratificar essa eficácia. "Os resultados obtidos na Tailândia não são suficientes para o seu lançamento (...). Estabelecemos um limite mínimo de eficácia em 50%", disse à agência de notícias France Presse Lynn Morris, médico do Instituto Nacional de Doenças Contagiosas (NICD) da África do Sul. "Temos a esperança de que a eficácia seja ainda maior", comentou recentemente o vice-presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, na assembleia nacional daquele país. Mas apesar do otimismo que esta vacina suscita, os especialistas insistem na necessidade de não baixar a guarda. "Uma vacina eficaz seria um ponto de inflexão, mas estes ensaios durarão anos", insistiu Morris. "Temos que continuar a utilizar os outros métodos de prevenção para reduzir os novos contágios", reiterou.

Os tratamentos antirretrovirais (ARV) continuam a ser de longe os mais eficazes contra a doença. Segundo a ONUSIDA, metade das 36 milhões de pessoas infetadas pelo VIH em todo o mundo têm acesso aos ARV - o dobro do que há cinco anos. Graças a estes tratamentos, que permitem controlar a evolução do vírus e aumentar a esperança de vida dos seropositivos, a esperança de vida dos sul-africanos passou de 57,1 para 62,9 anos em média desde 2009, segundo as autoridades locais.

Os ensaios desta nova vacina são dirigidos pelos Institutos Nacionais da Saúde (NIH) dos Estados Unidos, o Conselho Sul-africano de Pesquisa Médica (SAMRC), a Fundação Bill e Melinda Gates, os laboratórios Sanofi Pasteur e GlaxoSmithKline, e a Rede de Ensaios de Vacinas contra o HIV (HVTN).